This site uses cookies.
Some of these cookies are essential to the operation of the site,
while others help to improve your experience by providing insights into how the site is being used.
For more information, please see the ProZ.com privacy policy.
Portuguès a Francès: Percursos cruzados na sociologia do trabalho: intercâmbios entre França e Brasil General field: Ciències socials Detailed field: Ciències socials, sociologia, ètica, etc.
Text d'origen - Portuguès Percursos cruzados na sociologia do trabalho: intercâmbios entre França e Brasil
Este artigo analisa a criação, o desenvolvimento e os intercâmbios de pessoas e de ideias entre as sociologias do trabalho francesa e a brasileira ao longo dos anos 1950 e 1960. Por meio de um estudo sócio-histórico, ressalta-se as relações políticas e acadêmicas estabelecidas numa incipiente comunidade acadêmica internacional que contou com apoios financeiros de organismos internacionais, fundações filantrópicas, governos e universidades. Algumas figuras foram importantes neste processo, tais como Georges Friedmann, Alain Touraine, Fernando Henrique Cardoso e Florestan Fernandes. Assim como algumas instituições, tais como o Centre d’Études Sociologiques e o Laboratoire de Sociologie Industrielle, na França, e o Centro de Sociologia Industrial e do Trabalho da Universidade de São Paulo, no Brasil. Os grandes temas de preocupações desta geração foram os impactos das transformações tecnológicas no trabalho e as ações dos sujeitos capazes de modernizar a sociedade. Neste estudo, foram utilizadas várias estratégias metodológicas, sobretudo a análise de fontes documentais em arquivos da França e do Brasil, além de entrevistas com autores e revisão bibliográfica da produção do período analisado. Com isso, este texto permite enriquecer os estudos sócio-históricos da sociologia e evidenciar as afinidades eletivas entre os intelectuais envolvidos nesta empreitada.
História das ciências sociais, Sociologia do trabalho, França, Brasil, América Latina
Por meio de um estudo sócio-histórico, este artigo analisa a criação, o desenvolvimento e os intercâmbios da sociologia do trabalho francesa e brasileira ao longo dos anos 1950 e 1960. Ressaltamos a importância das relações políticas e acadêmicas estabelecidas entre indivíduos e instituições graças a uma incipiente comunidade acadêmica internacional. Com isso, investigamos os percursos cruzados entre brasileiros e franceses no decorrer da empreitada de institucionalizar a sociologia e analisar a sociedade em plena transformação. Este processo nos mostrará que existia uma afinidade eletiva quanto às instigações intelectuais, os objetos de estudos e as teorias propostas (voir l’Encadré 1). Ainda que os dois grupos estivessem separados por um oceano e realidades socioeconômicas bastante distintas, suas obras expressaram uma visão de mundo marcada pela modernização capitalista.
Além disso, estes intercâmbios foram possibilitados por meio de incentivos políticos e financeiros de inúmeros organismos internacionais – como a ONU, a Unesco e a OEA -, organismos nacionais – como ministérios e agências de pesquisa – e fundações filantrópicas – como foram os casos da Rockefeller e Ford. Isso demonstra que havia um projeto de constituição de uma ciência social que se preocupasse com o mundo da indústria e do trabalho.
O que estamos denominando de sociologia do trabalho, desenvolvida nos anos 1950 e 1960, não se restringe apenas a uma especialização das ciências sociais. Propomos uma análise mais abrangente, abarcando os estudos que se preocuparam com as questões referentes à indústria e ao trabalho, pois assim esse campo era visto por seus autores (Guimarães e Leite, 1994; Nahoum, 2017). Além disso, neste período, as especializações nas áreas científicas não compunham o mesmo tipo de divisão intelectual do trabalho como vemos hoje. Os acadêmicos tinham o hábito de transitar por diferentes áreas da sociologia e, em alguns casos, das ciências sociais.
Analisamos dois importantes grupos de acadêmicos que ajudaram a criar e desenvolver a sociologia do trabalho em seus países. Na França, concentramo-nos em Georges Friedmann e aqueles que trabalharam com ele, sobretudo Alain Touraine. Eles participaram do processo de renovação das instituições acadêmicas francesas, o que permitiu uma maior autonomia e flexibilidade para os pesquisadores. Dessa forma, foram fundamentais os trabalhos realizados no Centre d’Études Sociologiques (CES), a criação da VIe Section de l’École Pratique des Hautes Études (EPHE), que abrigou o Laboratoire de Sociologie Industrielle (LSI), e, por fim, os estudos do Institut des Sciences Sociales du Travail (ISST).
No Brasil, analisamos o grupo de sociólogos da Universidade de São Paulo (USP) que trabalharam ao redor de Florestan Fernandes, como foi o caso de Fernando Henrique Cardoso. Nesta instituição, foi-se desenvolvendo uma nova tradição de estudos do trabalho e da indústria, em permanente diálogo com autores franceses e estadunidenses. O momento ápice desta geração foi a criação do Centro de Sociologia Industrial e do Trabalho (Cesit), em 1962.
Durante este período, o grande tema de preocupação desta geração era o quanto os impactos das transformações tecnológicas e organizações no mundo do trabalho implicariam sobre os trabalhadores e a sociedade. Como consequência, também buscavam compreender quem eram e como agiam os sujeitos da transformação da sociedade, em particular a classe operária. Dessa forma, tinha-se de fundo uma preocupação com a modernização da sociedade e com as diversas formas de resistências à ela.
O artigo está dividido em quatro seções. A primeira aborda os desafios de reconstrução e da institucionalização da sociologia na França e no Brasil no início da segunda metade do século XX, ressaltando os contextos sociais e políticos e as instituições envolvidas nesta empreitada. Na segunda seção, destacamos a importância dos intercâmbios entre a USP e a sociologia francesa, mostrando como as temáticas sobre a indústria e o trabalho foram ganhando relevância ao longo dos anos 1950, refletindo o papel cada vez mais proeminente da cidade de São Paulo na industrialização brasileira. Na terceira parte do texto, problematizamos a consolidação da sociologia do trabalho nos dois países analisados, ressaltando a importância dos laboratórios e dos centros de pesquisas para os intercâmbios e os estilos de investigações desenvolvidos na época. Por fim, a última seção busca mostrar como a América Latina e os seus autores tiveram certo impacto nas reflexões de A. Touraine e G. Friedmann, sobretudo durante as décadas de 1950 e 1960.
1. Os desafios para a sociologia no pós-Segunda Guerra Mundial
Ao longo de quase três décadas após o término da Segundo Guerra Mundial, o mundo acadêmico assistiu a um de seus mais importantes processos de expansão e de consolidação de intercâmbios de pessoas e de pesquisas no âmbito global. Contribuíram, para esse propósito, numerosas organizações nacionais e internacionais (tais como a ONU, a Unesco, a OEA e a OCDE) e fundações filantrópicas norte-americanas (em particular, a Ford e a Rockefeller), assim como ajudas financeiras específicas a determinadas regiões (como foi o caso do Plano Marshall), encorajando e financiando o ensino e a pesquisa em ciências sociais nos países centrais e periféricos (Auteurice, 2023). Essas ações eram parte da dinâmica que consolidou, no Ocidente, a sociedade capitalista hegemonizada pelo taylorismo-fordismo, pela produção e o consumo em massa, pelo planejamento e o intervencionismo estatal, produzindo, dessa forma, novas exigências de conhecimentos técnico-científicos por parte da força de trabalho e dos agentes promotores das mudanças.
Na França, o renascimento da sociologia no pós-guerras, sobretudo a sociologia do trabalho, deu-se a partir do reencontro entre as políticas modernistas e os empreendimentos intelectuais mobilizados para esse fim (Tanguy, 2011). A consequência disso foi uma alteração do papel das universidades e dos intelectuais (ou experts) na sociedade. Por um lado, esta passou a exigir uma força de trabalho mais bem qualificada, principalmente entre aqueles que ocupavam os postos de gestão, como os cadres ou os managers. Por outro, o conhecimento científico tornou-se ainda mais instrumental, buscando-se resoluções rápidas para os problemas sociais e técnicos. O resultado foi que esse novo perfil acadêmico se distanciou tanto do catedrático conservador e isolado da sociedade como do intelectual engajado. Surgiu, portanto, incentivado pelas políticas modernizadoras do período da “reconstrução”, um profissional que objetivava contribuir com a modernização capitalista, mesmo que assumisse uma postura crítica a ela.
A confluência desse novo projeto político-acadêmico com a tradição durkheimiana na França e a estrutural-funcionalista nos EUA favoreceu a predominância do método de investigação empírico e de um modelo que parecia mais com as ciências da natureza do que com as disciplinas da cultura. Essa perspectiva já tinha sido anunciada por Georges Gurvitch, logo após a Libertação da França, em um artigo publicado no primeiro número da revista Cahiers internationaux de sociologie:
« L’énorme travail descriptif fourni par la sociologie américaine a montré ici la voie, bien qu’il ait besoin pour porter tous ses fruits, et même pour devenir utilisable, d’être assis sur des schèmes conceptuels, plus clarifiés, plus raffines et plus flexibles, tels qu’il font la force de la pensée sociologique française ». (Gurvitch, 1946, p. 7–8)
No Brasil, apesar da sociologia ter se institucionalizado em meados dos anos 1930, com a criação da Escola Livre de Sociologia e Política e da USP (Brochier, 2016), foi a partir do fim da Segunda Guerra Mundial e, particularmente, do fim do Estado Novo de Getúlio Vargas que a sociologia pode ter o seu primeiro grande impulso. Ela se expandiu para outras universidades, com a criação de novos cursos de bacharelados, o surgimento de institutos e centros de pesquisa – como foram os casos do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE) e do Centro Latino-americano de Pesquisa em Ciências Sociais (Clapcs) -, e, principalmente, com a vigência de uma nova política de estado inspirada no keynesianismo que via no conhecimento científico, em particular as ciências sociais, um elemento necessário para o planejamento social e econômico (Auteurice, 2023).
A base deste novo projeto estava ancorado na realidade concreta deste período. Durante o período do pós-Guerra na França, conhecido como les trente glorieuses, o país transformou significativamente as suas bases sociais e econômicas. De 1951 a 1973, a taxa média de crescimento do Produto Interno Bruto da França foi de 5,4% ao ano, níveis jamais antes vistos a um período tão longo. Concomitante a isso, a jornada anual de trabalho caiu de 2.100 para 1.850 horas, num contexto de aumento constante do valor relativo e real dos salários médios e de automatização da produção industrial (Dubois, 1985).
Na segunda metade dos anos 1950, visando retirar o país da condição de subdesenvolvido, a industrialização no Brasil ganhou força com forte concentração na região sudeste, em particular o Estado de São Paulo. Neste período, o Produto Interno Bruto do Brasil esteve acima da média de crescimento da América Latina (ele aumento em 6,8% nos anos 1950 e 4,5% entre 1960 e 1965). Isso ocorreu num período particular de transição da sociedade brasileira, durante o qual foram decisivos fatores como o crescimento demográfico, o êxodo rural e, consequentemente, a urbanização (Comission econômica para America Latina y el Caribe, 1984). Essas mudanças acabaram por consolidar um relativo mercado consumidor para os bens de consumo duráveis, impulsionando o crescimento das manufaturas.
A USP estava entre as principais instituições de pesquisa e ensino do Brasil. A sociologia já contava com um enorme prestígio político e com experiências internacionais, principalmente após as missões e intercâmbios de estrangeiros, sobretudo franceses, durante os anos 1930 e 1940 (Miceli, 1990; Miceli et Massi, 1989). Assim, nos anos 1950, a primeira geração de sociólogos brasileiros formados sob a influência destes estrangeiros passava a implementar novos projetos intelectuais. Um espaço privilegiado para isso, que serviu de formação e de experimentação às novas gerações por meio de investigações empíricas, foram as disciplinas e os grupos de pesquisas organizados por F. Fernandes. Este assumiu o posto de professor de sociologia da universidade após a partida do francês Roger Bastide, em 1954.
Segundo a visão de F. Fernandes, em texto publicado em 1958 , o desmembramento da antiga ordem social brasileira – rural, escravocrata, senhorial, tradicional etc. – permitiu o surgimento e o desenvolvimento da sociedade moderna – ou seja, urbana e industrial – e, consequentemente, a proliferação, pela primeira vez, do pensamento e da ação racional. A cidade de São Paulo, por representar o centro dinâmico da industrialização no Brasil, teria sido a primeira a desenvolver essa nova mentalidade. Entretanto, a evolução desse pensamento racional não teria eliminado a influência do irracionalismo sobre a vida cotidiana dos indivíduos (Fernandes, 1977).
Portanto, ainda segundo o sociólogo brasileiro, estaria nas novas instituições, desenvolvidas no contexto das políticas modernizantes do nacional-desenvolvimentismo dos anos 1950 e 1960, o lugar privilegiado de aplicação das novas técnicas racionais de intervenção sobre os problemas das cidades. Estas receberiam a ajuda dos planejadores e do conhecimento produzido na universidade pública.
Nesse contexto de avanços da “modernização”, ou seja, da industrialização e da urbanização das sociedades europeias e latino-americanas, a sociologia do trabalho, nas palavras de A. Touraine, tinha alinhamento com uma perspectiva social-democrata . Além disso, no programa fundador da revista Sociologie du Travail, publicado em 1959 e assinado por G. Friedmann, encontramos a defesa de uma disciplina que não se resumisse às questões propriamente do mundo laboral, mas buscasse a produção de análises e explicações totalizantes (Friedmann, 1959b).
Dessa forma, na França, o desenvolvimento da sociologia do trabalho se deu sob a tensão entre a concretização de um projeto político-acadêmico e a necessidade de responder criticamente às novas demandas advindas tanto do movimento sindical quanto das transformações produzidas pelo mundo industrial taylorista-fordista (Touraine, 1952). No caso do Brasil, os sociólogos se deparavam com os impactos da industrialização e da urbanização, a “revolução democrática” e a superação dos elementos ditos arcaicos da sociedade.
1.1. Uma incipiente comunidade acadêmica internacional
Os incentivos financeiros e políticos advindos dos organismos nacionais e internacionais e das fundações filantrópicas permitiram a consolidação de novas e modernas instituições de pesquisa e ensino. Foram os casos, na França, do CES e do ISST, duas instituições fundamentais para o desenvolvimento da sociologia do trabalho ao longo dos anos 1950 e 1960 (Tanguy, 2011). No Brasil, o CBPE, que contou com a presença de vários estrangeiros, teve um papel fundamental no impulso das primeiras grandes pesquisas empíricas sobre a industrialização e o desmembramento da “antiga ordem societal” (Auteurice, 2023). No caso da USP, buscou-se consolidar um laboratório de pesquisa semelhante ao que se fazia nos países centrais, com a criação do Cesit, em fevereiro de 1962, experiência inovadora que contou com verba pública e privada.
Por fim, também foram importantes, para a consolidação dessa comunidade acadêmica internacional, os incentivos dados para a criação de associações profissionais e científicas, como a Associação Internacional de Sociologia (ISA) e a Sociedade Brasileira de Sociologia, criadas, respectivamente, em 1949 e 1951. Assim, a circulação das ideias e dos intelectuais passaram a contar com uma rede internacional estabelecida por meio dessas instituições e associações, além dos intercâmbios e missões técnicas ou acadêmicas, bem como as revistas, os congressos e os seminários acadêmicos internacionais. Acrescenta-se a isso as políticas de bolsas de estudos e missões de pesquisa fornecidas por organismos internacionais e o Estado francês
Podemos verificar os impactos dessa política na progressão do número de participantes e de países representados nos quatro primeiros Congressos Mundiais da ISA, ocorridos na década de 1950, conforme Tabela 1:
Tableau 1 – Participação nos Congressos Mundiais de Sociologia, em total de participantes e países representados –1949-1959.
Ano Congresso Cidade (país) P R
1949 Congresso Constitutivo Oslo (Noruega) 24 21
1950 I Congresso Zurich (Suíça) 124 30
1953 II Congresso Liège (Bélgica) 281 34
1956 III Congresso Amsterdã (Holanda) 524 54
1959 IV Congresso Milão e Stresa (Itália) 980 50
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de Atas dos Congressos Mundiais de Sociologia, ISA, 1959, 1950, 1953, 1956 e 1959. Acervo da BnF, França.
Notas:
P = Total de participantes.
R = Total de países representados.
Os temas que pautaram os congressos mundiais da ISA refletiram os debates e as pesquisas que vinham sendo desenvolvidos nos principais polos de produção das ciências sociais, fundamentalmente nos EUA e na Europa Ocidental. Uma reflexão presente em todos os congressos era sobre a capacidade da sociologia de intervir no processo de transformação social em curso. Evidentemente que essa problemática estava indissociável da nova função social dos cientistas e de sua posição frente às políticas estatais de planificação. A fala de G. Friedmann, então presidente da ISA, na abertura do IV Congresso Mundial de Sociologia (1959), deixa evidente a concepção de ciência que tal geração buscava produzir. Como muitos outros, ele estava convencido de que a sociologia poderia auxiliar os Estados e as entidades da sociedade civil na prevenção de determinados problemas sociais e na melhor adaptação ao desenvolvimento técnico da sociedade:
« La sociologie, étroitement liée aux autres sciences sociales, s’affirme de plus en plus comme une nécessaire prise de conscience de la société industrielle par elle-même. [...] On constate que l’ambition de la connaissance scientifique se mêle à l’exigence (ou à la nostalgie) de l’action. L’action du sociologue peut être concue par lui essentiellement comme la transformation militante du milieu. Mais il peut aussi considérer uqe sa mission est avant tout d’aider l’homme dans son adaptation à ce nouvel environnement. [...] les sociologues occidentaux contribuent à la transformation, et en tout cas à la réforme, du milieu social par des recherches [...] Le rôle du sociologue est différent selon la collectivité qui fait appel à lui : une grande administration publique (c’est-à-dire l’Etat), une entreprise industrielle, comerciale, financière, une corporation économique, un sydicat, une association professionnelle [...] » (Friedmann, 1960, pp. 11, 15,16)
No caso da América Latina, em particular o Brasil, um momento importante desse longo processo de “academização” das ciências sociais foi a realização da Conferência sobre o Ensino de Ciências Sociais na América Latina, organizada pela Unesco, na cidade do Rio de Janeiro, em 1956. Nesse evento, além de aprovarem a criação da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), com sede em Santiago do Chile, e do Clapcs, no Rio de Janeiro, apontaram para a necessidade de produzir pesquisas e ensino que abordassem o mundo industrial e do trabalho: “As universidades da América do Sul deveriam fomentar ativamente as disciplinas designadas com o nome genérico de Relações Industriais ou Relações de Trabalho” .
Durante os anos 1950, a participação e a influência dos latino-americanos nos Congressos da ISA foram bem menores do que as europeia e norte-americana. No entanto, esse fator não diminuiu a importância dessa associação enquanto espaço político-acadêmico que possibilitava criar e aprofundar as relações entre EUA-Europa e entre Norte-Sul do mundo ocidental. No caso específico dos latino-americanos, se a sua participação era quase ínfima nos congressos internacionais – e isso se justificava, essencialmente, pelos encargos financeiros que as viagens representavam –, o contrário ocorria no âmbito da diretoria da ISA. A presença permanente de latino-americanos em todas as diretorias eleitas nos anos 1950 comprova a importância política e acadêmica dessa região no desenvolvimento do campo das ciências sociais. Dois brasileiros, particularmente, tiveram destaque na promulgação dessa relação no âmbito das associações internacionais e regionais: Fernando de Azevedo e Luiz de Aguiar Costa Pinto.
Portanto, é de supor que a atuação dos brasileiros nos congressos internacionais e nas diretorias da ISA, nos espaços da Unesco e de outros organismos internacionais lhes permitiram estreitar laços com seus pares de outras nacionalidades. Essa tese é confirmada pela farta correspondência entre brasileiros e intelectuais de outras nacionalidades encontrada nos arquivos pesquisados. Foi por meio dessas relações que se desenvolveu uma rede de contatos em torno de uma agenda de pesquisa sobre o mundo do trabalho e da indústria.
2. Os intercâmbios iniciais entre França e Brasil na sociologia do trabalho
A sociologia do trabalho desenvolvida ao longo dos anos 1950 no Brasil nasceu com um forte vínculo entre autores, correntes e instituições de outros países. Os estudos sobre a indústria e o trabalho talvez tenham sido os que mais se beneficiaram das redes de contatos que se formaram por meio da constituição daquela comunidade acadêmica internacional. Duas instituições foram fundamentais nesse período, os já mencionados CBPE e o Cesit. Mas foi do encontro entre o grupo de G. Friedmann e o de F. Fernandes que a sociologia do trabalho no Brasil deu um salto acadêmico, na passagem dos anos 1950 e 1960, criando um estilo de pesquisa que influenciou gerações.
O vínculo de G. Friedmann com os sociólogos da USP teve início nos fóruns internacionais, mas foi via Fernando de Azevedo, catedrático de sociologia da USP, e a recém-criada Capes, chefiada por Anísio Teixeira, que a articulação da vinda do francês ao Brasil foi costurada. Os documentos encontrados em arquivos comprovam que havia uma articulação, desde 1954, para que os sociólogos franceses, em particular G. Friedmann, ajudassem no desenvolvimento da sociologia industrial no Brasil e uma colaboração científica entre o CES e a USP. Desde o início, o francês demonstrou grande interesse em conhecer o país sul-americano, como atesta uma carta que enviou a Fernando de Azevedo, em 1954: “Je suis très touché de cette invitation et serais heureux, en principe, de faire un séjour au Brésil. J’ai dit à Monsieur Teixeira que, dès que j’aurai rassemblé les informations nécessaires (étant donné les engagements que j’ai déjà pris pour 1955 et, par ailleurs mes obligations professionnelles), je lui donnerai ma réponse » . No entanto, seus planos são continuamente adiados por excesso de trabalho. A primeira visita ocorreu somente no final de 1957 , quando pôde fazer uma escala de quatro dias no Rio de Janeiro e se encontrar pela primeira vez com A. Teixeira.
As duas visitas que fez à USP ocorreram em 1958 e 1960. Antes desta segunda viagem, G. Friedmann fez uma pequena estadia no Rio de Janeiro para se reunir novamente com A. Teixeira . Sobre a primeira passagem, F. H. Cardoso nos concedeu o seguinte relato:
“[...] eu creio que foi o Fernando de Azevedo quem convidou o Friedmann. Ele era um professor francês do Conservatoire National des Arts et Métiers. Ele foi o iniciador do que se chamou de sociologia do trabalho, nos anos 1950, no começo dos anos 1950. Aí veio o Friedmann para cá [...] Eu tinha um automóvel. Uma tia minha me deu um carro. Então eu andei muito com ele para mostrar São Paulo e mostrar também como era a eleição em São Paulo. [...] Então era difícil para um europeu entender a situação brasileira, então eu andei com o Friedmann por aí [...] O fato é que eles resolveram indicar o Alain Touraine para vir para cá. Touraine, a essa altura, já tinha feito aquela pesquisa lá no Chile, em Huachipato e Lota. E, por acaso, tinha trabalhado lá com alguém que depois escreveu um livro comigo, Enzo Faletto. O Alain veio para cá, e eu falava francês desde pequeno, então era mais fácil entrar em contato com essa gente [...]”.
Em 1956, antes de sua primeira visita ao Brasil, G. Friedmann recebeu um convite do reitor da Universidade do Chile para ajudar na construção de uma linha de pesquisa de sociologia industrial no recém-criado Instituto de Sociologia dessa universidade. Por conta do excesso de atividades na França e na ISA, o sociólogo francês delega essa tarefa aos jovens pesquisadores que trabalhavam com ele no CES, sob a direção de A. Touraine. Este organizou com Jean-Daniel Reynaud, entre 1956 e 1958, um estudo comparativo sobre consciência de classe nas cidades de Lota e Huachipato (Di Tella et al., 1966). Vale aqui destacar, como ilustração do quanto essas ações criaram uma rede de relações político-acadêmicas ao longo dos anos 1950 e 1960, que, entre os estudantes chilenos que participaram da pesquisa, estava Enzo Faletto. Anos mais tarde, ele se tornaria um parceiro intelectual de F. H. Cardoso quando de seu exílio no Chile. Assim E. Faletto se recorda do trabalho que realizou com A. Touraine:
“O primeiro estudo foi sobre os grupos de supervisores, que no Chile eram chamados de mayordomos de mira, ou capatazes. A ideia era acompanhar esse capataz em suas atividades e anotá-las, mas no fundo se tratava de conhecer o mundo das minas, com o que me envolvi por quase três semanas (...) depois (...) fizemos entrevistas com os operários sobre a atividade. Touraine participou todo o tempo. Ele organizou a pesquisa e iniciou todo o trabalho de campo que levou, por fim, à elaboração dos questionários. Depois de Touraine, veio, por meio do convênio, Reynaud, com quem iniciamos a análise e sobretudo a primeira parte da sistematização e da organização dos dados”. (Rego, 2007, p. 192)
A. Touraine visitou pela primeira vez a cidade de São Paulo em 1960, sob indicação de G. Friedmann. Após as primeiras visitas dos sociólogos franceses a USP, abriram-se oportunidades de intercâmbios e estágios desses brasileiros na França, em particular no LSI. Esse foi o caso de F. H. Cardoso, que, entre outubro de 1962 e março de 1963, se beneficiou de bolsas de estudos da Capes e da EPHE. O objetivo do intercâmbio era avançar nas relações com as instituições de ensino e pesquisa francesas. O próprio F. H. Cardoso relatou, em cartas para F. Fernandes, que os europeus demonstravam grande expectativa com as pesquisas de São Paulo.
Assim, em um contexto de construção de uma comunidade acadêmica internacional, os temas referentes ao mundo do trabalho foram ganhando importância quando a industrialização do centro e da periferia se tornaram fundamentais para as políticas entendidas como modernizadoras.
2.1. O mundo do trabalho ganha relevância na USP
Na USP, o mundo industrial e do trabalho foi, progressivamente, ganhando relevância enquanto objeto de pesquisa e tema de eventos acadêmicos ou disciplinas, ocorrendo um “pico” de atividades justamente no período de articulação e criação do Cesit. Podemos mencionar a pioneira investigação realizada por Azis Simão – e apresentada no I Congresso Brasileiro de Sociologia, em 1954 – sobre o voto operário em São Paulo (SIMÃO, 1955). Em 1955, por exemplo, no curso de Dinâmica Social, ministrado por Azevedo para os alunos do terceiro ano de ciências sociais, apareceu, pela primeira vez, na bibliografia obrigatória, um artigo de G. Friedmann. No ano seguinte, no curso de Sociologia Aplicada, F. H. Cardoso ministrou seminários sobre os problemas sociais da sociedade de classe, que continham uma extensa bibliografia de sociologia industrial norte-americana. Paralelamente, foram registrados vários seminários e palestras dadas por A. Simão, Juarez Brandão Lopes e F. H. Cardoso para sindicatos patronais e operários, bem como para grandes empresas. Em 1960 e 1961, foram organizados cursos na USP sobre sociologia industrial, sendo o primeiro com a presença de A. Touraine. Assim, pode-se verificar uma progressiva inserção das temáticas sobre a indústria e o trabalho, assim como referências à sociologia industrial e, posteriormente, à sociologia do trabalho nos cursos, seminários e preocupações de pesquisa dos professores, assistentes e estudantes da USP.
De fato, as visitas de G. Friedmann e A. Touraine ao Brasil, em 1958 e 1960, e a possibilidade de construção de um centro de pesquisa com vínculos internacionais foram um momento-chave na inflexão dos estudos sobre a indústria e o trabalho na USP. Nesse interregno foi possível uma união de diferentes grupos de pesquisa, como foi o caso do Seminário realizado ao longo do primeiro semestre de 1961, sob a coordenação de A. Simão e que contou com a seguinte programação:
28 de abril – A análise sociológica dos problemas econômicos, Florestan Fernandes.
04 de maio – As tendências atuais da sociologia industrial, Juarez Brandão Lopes.
10 de maio – Aspectos da ideologia do empreendedor no Brasil, Octavio Ianni.
16 de maio – A formação do proletariado paulista, Fernando H. Cardoso.
22 de maio – O sindicato e a industrialização, Azis Simão.
3. A consolidação de um campo sociológico na França e no Brasil
O projeto de “modernização” da sociedade dos anos 1950/1960 alimentou o engajamento de toda uma geração de intelectuais no período aqui analisado. Modernizar era compreendido como sinônimo de desenvolvimento econômico e, em algumas regiões, de democratização da sociedade em seu sentido liberal. Na França do pós-guerra, a obstinação central desse projeto passava, centralmente, pelo aumento da produtividade do trabalho. No Brasil, a sua condição de país periférico e dependente impunha como objetivo central o desvencilhamento das amarras herdadas de um passado colonial, “arcaico” e tradicional. Um dos pontos em comum entre os projetos modernizantes, tanto do grupo de pesquisadores franceses quanto dos brasileiros, está em seu otimismo com o progresso técnico e científico.
Nesse sentido, a sociologia industrial norte-americana e, posteriormente, a sociologia do trabalho francesa eram lidas nos cursos de Ciências Sociais da USP, em meados de 1950, enquanto reflexões abstratas de uma sociedade que viria a se concretizar no Brasil. Porém, quando a industrialização se tornou o fator mais dinâmico da economia brasileira, o mundo do trabalho foi incorporado na sociologia uspiana enquanto objeto central de reflexão político-acadêmica (Brandão Lopes, 1960b; Cunha, 1951; Simão, 1955). Como desdobramento daquele processo, a classe operária brasileira passou a ter relevância enquanto agente político. Portanto, a partir disso, a sociologia do trabalho ganhou concretude no território brasileiro, permitindo um diálogo teórico, pautado em pesquisas empíricas, entre os brasileiros e os franceses.
Assim, quando os sociólogos do trabalho franceses desembarcaram no Brasil, no final dos anos 1950, encontraram um estilo de pesquisa semelhante ao que buscavam na França. A criação do Cesit, em 1962, que acabou por colocar em prática o projeto de uma sociologia aplicada, esboçado por F. Fernandes, só foi possível frente à conjuntura política nacional e estadual que valorizava as políticas planificadoras (Romão, 2006). No âmbito estadual, o governo implementava uma política chamada de Plano de Ação do Estado de São Paulo e incentivava uma relação estreita entre os quadros da burocracia estatal com a USP (Camargo, 2016). No espectro nacional, a crise aberta com a renúncia de Jânio Quadros possibilitou que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) fosse gerida por um amigo de longa data de F. H. Cardoso, o que facilitou uma doação relevante para o início dos trabalhos do novo centro.
Na França, entre 1940 e 1960, três problemáticas foram recorrentes em grande parte das pesquisas em sociologia: (1) as consequências das transformações técnicas sobre o trabalho e o conjunto da sociedade; (2) as atitudes operárias; e (3) a organização e a remuneração do trabalho. Entre as figuras mais importantes dessa geração, podemos citar, além de G. Friedmann e A. Touraine, Jean-Daniel Reynaud, Michel Crozier e Pierre Naville. Os diálogos entre esses sociólogos franceses e os brasileiros impactaram as reflexões e as agendas de pesquisas realizadas no Brasil. Ao mesmo tempo, havia uma curiosidade dos franceses pelos estudos realizados na América Latina.
Uma prova de como as reflexões na América Latina repercutiam entre os franceses são os dois Dossiês Especiais publicados na revista Sociologie du Travail nos anos de 1961 e 1967. O primeiro tinha como tema central “Operários e sindicatos na América Latina” e o segundo, “Classes sociais e poder na América Latina” . Paralelo a revista, surgiram os dois volumes do Traité de Sociologie du Travail, em 1961 e 1962, organizados por G. Friedmann e P. Naville, com colaboração de Jean-René Treanton. Apesar de sua aparição ocorrer posteriormente à revista, a articulação de seu projeto teve início bem antes, em 1954 (Borzeix et Rot, 2010). Em seu segundo volume, A. Touraine e Bernard Mottez escrevem sobre a classe operária e a sociedade global e, em um de seus argumentos centrais, ancora-se na tese do brasileiro J. Brandão Lopes sobre o desejo dos operários de origem agrícola trabalharem por conta própria e retornarem ao meio rural, fugindo do ambiente fabril (Brandão Lopes, 1957).
3.1. Centro de Sociologia Industrial e do Trabalho do Brasil
O primeiro grande projeto temático do Cesit se chamou Economia e Sociedade no Brasil: análise sociológica do subdesenvolvimento. Com ele, buscou-se compreender os efeitos da industrialização sobre a região metropolitana de São Paulo. Paralelamente a isso, o Cesit também encaminhou uma pesquisa sobre a estrutura da empresa industrial em São Paulo, proporcionando conhecimentos objetivos e precisos sobre a situação global das indústrias na região, os caracteres estruturais dos vários tipos de empresas industriais existentes e, por fim, a organização, as tendências de crescimento e as condições de integração ao sistema socioeconômico vigente de empresas consideradas típicas. O Cesit também buscou investigar a relação da industrialização de São Paulo com o desenvolvimento da nação, em particular os impedimentos desse desenvolvimento devido às condições de atraso da sociedade brasileira.
A sociologia da USP, principalmente a produzida no Cesit, buscava uma interpretação e uma análise da realidade brasileira a partir de uma perspectiva totalizante . As obras desses autores continham uma tensão interna devido ao confronto entre o modelo funcionalista, valorizado ao longo dos anos 1950, e o método dialético, incorporado pelos mais novos em suas pesquisas com as leituras de Marx e outros marxistas. Como afirmam Guimarães e Leite, essa geração
“ousava correr o risco de formular uma teoria da sociedade brasileira. Nesse pioneirismo, os estudos sobre o trabalho industrial desempenharam um papel decisivo [...] Nessas condições, a moderna sociologia do trabalho nasceu, no Brasil, fortemente tributária da herança de alguns pioneiros que aceitaram o desafio de explicar as condições de emergência, as atitudes políticas e a ação sindical dos contingentes operários que se formavam no processo de industrialização”. (Guimarães e Leite, 1994, p. 40)
Entretanto, as suas produções não superaram a visão dualista em voga nas ciências sociais, ainda que eles se colocassem críticos a elas. Por meio de pesquisas empíricas e surveys, tendo como objeto central o mundo urbano e industrial (o lado “moderno” do país), os membros do Cesit buscaram demonstrar as razões pelas quais o projeto modernizador encontrava resistências no Brasil. A causa, grosso modo, estava na presença de elementos do arcaísmo nas atitudes de operários e empresários industriais.
Um dos eixos temáticos de pesquisa desenvolvido pelo Cesit foi sobre a mentalidade do empresário industrial. Buscou-se compreender esse ator social, com o objetivo de aportar na constituição de um novo tipo de empresário, com um perfil racional e planejador, consciente da importância de suas ações estarem articuladas com a lógica do mercado competitivo e sabendo aproveitar, da melhor maneira possível, os novos perfis de operários e o conhecimento científico produzido em seu tempo. Em última instância, acreditava-se que seria possível superar o perfil de um burguês industrial, marcado pela sociedade tradicional, arcaica e paternalista. Portanto, produzir conhecimentos sobre a mentalidade dos empresários industriais seria fundamental para orientar e disciplinar essa camada social no processo de modernização da sociedade. No entanto, as conclusões de F. H. Cardoso (1964, 1960a, 1960b) foram que, influenciados pelo arcaísmo de nosso passado, os empresários industriais apresentavam a ausência de uma racionalidade instrumental fundamental para o desenvolvimento capitalista, elemento agravado pela dependência da economia brasileira. Portanto, caberia ao Estado, com o auxílio de técnicos e o conhecimento científico, o papel de formular e incentivar a industrialização com métodos modernos.
Sobre a outra ponta do antagonismo de classe, ocorreu a pesquisa sobre a mobilização da força de trabalho, na qual o Cesit partia do pressuposto de que as formas de estratificação social produzidas pela colonização e a escravidão no Brasil deixaram como legado a degradação da força de trabalho. Ainda que os seus autores quisessem romper com a lógica dualista, o fato é que as suas pesquisas e conclusões se mantiveram nessa perspectiva. Por exemplo, a hipótese de Leôncio Martins Rodrigues era a de que a
“natureza do moderno processo de industrialização, em interação com determinadas características da sociedade brasileira, acarretou uma posição relativa da classe operária no interior da nação e tipos de orientações e atitudes políticas divergentes das observadas nos países de antiga industrialização”. (Rodrigues, 1968, p. 341)
Muito próximo das conclusões de J. Brandão Lopes (1966, 1960a, 1960b, 1957), L. M. Rodrigues entende que não houve no Brasil a formação de uma ideologia questionadora do capital no interior da classe operária. Portanto, o desajustamento dos trabalhadores na sociedade industrial se refletia numa falta de consciência de classe. Com esse limitador, os sindicatos e os movimentos sociais dos trabalhadores não poderiam cumprir, portanto, o papel de sujeitos históricos. Com a ausência de uma ação radical, as entidades sindicais se desenvolveriam controladas e subordinadas ao Estado, permitindo a emergência do populismo.
A temática sobre a consciência operária ou as atitudes operárias era uma preocupação central na primeira fase da produção intelectual de A. Touraine (ou seja, de 1948 a 1968). O sociólogo buscava produzir uma teoria da ação social, refletindo sobre o que ele denominava de historicité, ou seja, a capacidade da sociedade de se transformar por si mesma. No entanto, essa transformação dependeria da ação de um sujeito histórico, isto é, a classe operária.
Durante esse período, na sociologia do trabalho francesa, ocorreram inúmeros estudos sobre as resistências operárias ao processo de transformação técnico-administrativo no mundo do trabalho, que contaram com a aplicação de enquêtes, com o objetivo de medir a consciência operária (Naville, 1961; Touraine, 1966). Dessa forma, acreditava-se que, compreendendo as questões que normatizavam as ações dos trabalhadores, seria possível aos sindicatos, aos patrões e aos agentes dos governos planejarem as políticas necessárias para acelerar o processo de modernização da sociedade.
Assim, por meio de uma rede de contatos político-acadêmicos e de uma comunidade acadêmica internacional, foi possível criar agendas de pesquisas comuns e reflexões teóricas sobre o processo de “modernização” sob uma perspectiva comparativa entre centro e periferia, destacando tanto as suas semelhanças quanto as singularidades locais. A ambição desses autores em dar conta da totalidade social, em especial dos dois polos da “modernização” capitalista do período pós-Segunda Guerra Mundial, levou A. Touraine a articular um gigantesco projeto de pesquisa sobre consciência de classe, que envolvia uma parceria entre o LSI, dirigido pelo francês, e os latino-americanos, entre eles o Cesit.
3.2. Um projeto do LSI para a América Latina
O projeto do LSI intitulado Mudança social e movimentos sociais na América Latina foi articulado em 1964 com o argentino Gino Germani e colocado em prática no ano seguinte. Tratou-se de uma pretensiosa iniciativa de cooperação entre pesquisadores de diversos países, que buscou realizar uma análise comparativa das escolhas econômicas (tipos de investimento, formas de determinação dos salários, inflação etc.) dos atores sociais no processo de transformação da sociedade ou, para usar o vocabulário de A. Touraine, da manifestação do sistema de ação histórico.
Na França, ele contava com o apoio e a cooperação do Institut des Hautes Études d’Amérique Latine (IHEAL), criado em 1954 e vinculado à EPHE, e com aportes financeiros da Délégation Générale à la Recherche Scientifique et Technique. Previamente ao projeto, o LSI e o IHEAL se esforçaram, sob a direção de A. Touraine e de Daniel Pécaut, em criar um Centro de Documentação Social sobre a América Latina, com o objetivo de coletar documentos acerca dos problemas sociais da industrialização na região. De 30 de outubro de 1964 a 16 de janeiro de 1965, D. Pécaut visitou vários países da América do Sul (Argentina, Brasil, Chile, Uruguai, Peru e Colômbia) com o objetivo de reunir a documentação base, principalmente dados estatísticos, que constituiria o novo centro de documentação. Essa missão também possibilitou que o francês estreitasse suas relações com os latino-americanos, o que foi decisivo para o projeto subsequente e para a sua própria carreira acadêmica. O Centro contou com a ajuda financeira do CNRS e foi concretizado em setembro de 1966. Os documentos reunidos e os dados das pesquisas seriam compartilhados com as instituições parceiras do LSI na América Latina. Parte dessa cooperação previa o envio de pesquisadores franceses em missões para os países envolvidos e a ida dos coordenadores latino-americanos do projeto a Paris.
Segundo um de seus relatórios, o LSI visava, em colaboração com institutos de pesquisa latino-americanos, a realizar um “certo número de enquetes sobre a formação das classes operárias, sobre os efeitos das migrações internas, os movimentos sociais e nacionais, e sobre a formação dos dirigentes da classe econômica” . Em carta escrita por A. Touraine a F. Fernandes, a pesquisa é apresentada da seguinte forma:
“O objetivo da pesquisa é considerar as atitudes das novas categorias e o desenvolvimento de seus países. Em função de quais objetivos e por quais meios os trabalhadores jogam um papel nos processos de decisão que levam ao desenvolvimento econômico e social? Como o tema e a modalidade do nacionalismo e da defesa de classe se entrelaçam? Qual concepção se forma do sindicalismo, da política, do trabalho industrial etc.? Como você pode ver, trata-se menos de um estudo sobre a integração ou a adaptação social que de uma análise da participação e da reivindicação”.
As investigações seriam realizadas na Argentina, no Brasil, no Chile, no Peru, na Colômbia e no México. Isso exigia não apenas uma significativa articulação político-acadêmica, algo possível aos franceses num momento de relevantes aportes financeiros advindos de organismos nacionais e internacionais para os temas relativos ao desenvolvimento dos países do “terceiro mundo”, mas sobretudo dependia das condições políticas de cada nação. Os golpes militares ocorridos a partir de 1960 foram um dos principais limitadores na articulação dessa e de outras pesquisas. Mesmo assim, estiveram envolvidos na elaboração desse projeto os mais importantes centros de estudos sociológicos da América do Sul, ainda que nem todos tenham participado da sua concretização.
Entre eles estão o Cesit, da USP, o Centro de Sociologia Comparada do Instituto Torcuato Di Tella e o Instituto de Sociologia da Universidade de Buenos Aires, os dois dirigidos por G. Germani, o Departamento de Sociologia da Universidade de Buenos Aires, dirigido por Garcia Rena, a Faculdade de Sociologia de Bogotá, com ajuda de Fals Borda e Rotinof. A Clapcs do Rio de Janeiro, na época dirigida por Manuel Diegues, chegou a manifestar interesse em participar da pesquisa, mas nada confirma a efetivação dessa parceria. Os documentos pesquisados levam a crer que a Fundação Ford também colaborou financeiramente com o projeto.
As problematizações que colocavam o grupo de sociólogos em torno de A. Touraine coincidiam com as mesmas questões refletidas por uma parte da sociologia latino-americana, ou seja, as dificuldades do desenvolvimento econômico na periferia do capitalismo. Os atores estudados – sejam os operários, sejam os empresários industriais – eram compreendidos tanto como agentes do desenvolvimento quanto como defensores de interesses privados. Mas o elemento mais concreto desse estudo seria, afirma o documento, a investigação sobre a formação da consciência operária. Ela permitiria compreender o conjunto das formas pelas quais uma categoria profissional se torna um ator político e social, intervindo ativa ou passivamente nas decisões que afetam o desenvolvimento nacional.
As primeiras reuniões das equipes de investigação ocorreram ao longo do primeiro semestre de 1965, realizadas em Paris e Buenos Aires, com participação de G. Germani. O LSI assumiu a maior parte dos custos do projeto, pagando as missões, os coordenadores e os pesquisadores. O empreendimento se efetivaria com a aplicação de questionários entre os operários – cerca de 800 a 1000 questionários por país – e a investigação em documentos relativos à atuação sindical, aos movimentos sociais e ao sistema político. As pesquisas foram realizadas entre novembro de 1965 e agosto de 1966, sem a participação da equipe brasileira.
4. A América-Latina na encruzilhada da modernização
O profundo processo de mudanças sociais, econômicas e políticas ocorridas no Brasil após o fim da Segunda Guerra Mundial, principalmente com o avanço do assim chamado nacional-desenvolvimentismo, isto é, as ações a partir do Estado visando impulsionar a industrialização sem alterar as principais correlações das forças políticas entre as classes sociais, produziu reações dos setores mais conservadores e reacionários da sociedade que culminaram no golpe militar de 1º de abril de 1964 (Schwarcz et Starling, 2015).
Este tensionamento e as dificuldades de resoluções por meios democráticos foram objeto das pesquisas realizadas pela sociologia do trabalho da USP, em particular entre os membros do Cesit. F. H. Cardoso, por exemplo, buscou compreender os motivos pelos quais os empresários industriais não assumiam uma postura progressista (e racional) em relação ao desenvolvimento econômico. As suas atitudes os conduziam a se alinhar com os setores mais reacionários da sociedade brasileira. Além da ideologia propagada pela guerra fria, tinham medo de que a força do proletariado industrial impusesse suas demandas democráticas e acabasse com os privilégios comuns a uma sociedade de passado escravocrata. Não à toa, F. H. Cardoso conclui:
“As decisões fundamentais não dependerão apenas da burguesia industrial que, parece, optou pela “ordem”, isto é, por abdicar de uma vez por todas de tentar a hegemonia plena da sociedade, satisfeita já com a condição de sócio-menor do capitalismo ocidental e de guarda avançada da agricultura que muito lentamente se capitaliza. Resta verificar qual será a reação das massas urbanas e dos grupos populares e qual será a capacidade de organização e decisão de que serão capazes para levar mais adiante a modernização política e o processo de desenvolvimento econômico do país. No limite a pergunta será então: subcapitalismo ou socialismo?” (Cardoso, 1964, p. 198)
A conclusão de F. H. Cardoso anunciava suas inquietudes e a sua transição de uma sociologia weberiana e estrutural-funcionalista, com fortes traços na teoria da modernização, para aquilo que ficou conhecido como teoria da dependência. Esta nova fase se consolidou em seus estudos realizados no exílio, em particular no Chile, e na parceria que estabeleceu com Enzo Falleto (Cardoso et Faletto, 1978).
O Golpe Militar de 1964 no Brasil deu início a uma forte perseguição contra os sociólogos da USP, dificultando a continuidade das investigações programadas pelo Cesit. F. H. Cardoso e tantos outros tiveram que se exilar, dando início a um novo ciclo na produção das ciências sociais brasileira e na sua relação com a sociologia francesa. A saída do sociólogo brasileiro, por exemplo, debilitou a direção do novo centro de pesquisa, que efetivamente foi assumido por F. Fernandes. A. Touraine buscou inúmeras vezes convencer os membros do Cesit a participarem da pesquisa internacional coordenada pelo LSI, tentando colocar em sua coordenação o jovem sociólogo Luiz Pereira e, posteriormente, L. M. Rodrigues. No entanto, os interesses acadêmicos destes tinham mudado. L. M. Rodrigues, por exemplo, estava mais animado em seguir os caminhos de F. H. Cardoso e Francisco Weffort e assumir um lugar na Cepal, em Santiago do Chile, do que se manter no Brasil sob as dificuldades e austeridades acadêmicas impostas pelo novo regime ditatorial.
4.1. Alain Touraine e o sujeito histórico
Com as pesquisas, viagens e relações pessoais e acadêmicas que A. Touraine realizou na América Latina, o autor foi elaborando uma explicação acerca do processo de industrialização e o papel de seus atores sociais na região. Ele influenciou e foi influenciado pelas teorias dos grupos locais, como foi o caso dos sociólogos da USP, estabelecendo um diálogo, ainda que este não tenha sido sistemático e duradouro. As pesquisas realizadas antes de 1965, ano de sua defesa de doutorado de Estado, deram ao autor francês o material necessário para as reflexões que o levariam à proposta de uma nova teoria sociológica geral, expressa em Sociologie de l’action. Depois disso e até 1973, quando do Golpe Militar no Chile e da publicação de Production de la Société, A. Touraine buscou aplicar e aprimorar a sua teoria em novos casos analisados.
Em um escopo teórico apresentado em artigo, A. Touraine e D. Pécaut (1967) destacam a singularidade dos processos de industrialização nos países “em vias de desenvolvimento”. No caso, a distinção entre dirigentes e dirigidos não era tão nítida como nos processos de industrialização da Europa. Na América Latina, este foi frequentemente realizado por grupos nacionalistas ou revolucionários e os seus dirigentes econômicos ou políticos se confundiam em muitas ocasiões com os líderes dos movimentos populares. A burguesia era fraca e a classe operária integrada ao sistema político. A implicação disso é que nesses países as massas teriam uma influência própria sobre os processos de transformação, atuando enquanto classe social, mas não com o mesmo tipo de consciência que se expressou historicamente na Europa .
A. Touraine opta pela sociologia do desenvolvimento que compreende a dinâmica das nações subdesenvolvidas aos efeitos da dominação exercida pelas grandes potências capitalistas, pois esta perspectiva insiste, na visão do autor, na importância das relações sociais. Nesse sentido, ele se recusa a reduzir as condutas sociais a uma adaptação às transformações e à sociedade a uma imagem de dirigida somente pela dominação. Acredita existir outras formas de condutas e relações sociais que levam à autonomia nas decisões política no interior dessas sociedades. E, o mais importante, existem movimentos sociais que tornam essas sociedades abertas, ou seja, em torno do conflito sobre a orientação de sua transformação. Daí ele conclui, generalizando a reflexão para a sua teoria geral, que «la société n’est pas seulement um système de normes ou um système de domination: ele est um système de rapports sociaux, de débats et de conflits, d’initiatives politiques et de revendications, d’idéologies et d’aliénations» (Touraine, 1973, p. 42).
Essas afirmações têm implicações sobre o conceito de “sujeito histórico” desenvolvido por A. Touraine, em particular sobre a consciência operária. Ele teria uma certa interferência direta ou indireta no desenvolvimento econômico. Mesmo quando o processo é de simples adaptação, há aí uma consciência de desenvolvimento. A tese do francês é que os operários latino-americanos contribuíram para definir as mudanças ocorridas em seus países e que eles não foram submissos a elas. Nesse sentido, A. Touraine termina não concordando com as explicações de que os operários da América Latina se adaptaram passivamente as transformações e que as conquistas legislativas e sociais teriam sido uma forma encontrada pelas classes dominantes para manter seu controle sobre os operários.
Para explicar a participação dos atores no processo de transformação, A. Touraine elabora o conceito de projeto, o que lhe permitiu unir sobre ele as noções de expectativa, de modo de participação e de exigência normativa do indivíduo. Essa proposta já havia sido esboçada em seu estudo sobre os operários de origem agrícola (Touraine and Ragazzi, 1961). Os indivíduos fazem escolhas no âmbito pessoal, como é o caso da mobilidade geográfica, mas a passagem de uma postura enquanto ator social particular para uma atuação no nível global representa o salto para o campo histórico. Nesses casos, ressalta o francês, o papel do sociólogo seria o de compreender o “projeto de futuro” e as formas de adaptação dos trabalhadores na migração do campo para a cidade.
Portanto, uma das grandes conclusões que A. Touraine tem em suas reflexões sobre a América Latina é que para compreender a industrialização dessa região o conceito de classe social é insuficiente. Segundo o autor, seria necessário incorporar nas análises os conceitos de nacionalismo e desenvolvimento. Portanto, seria a junção e a articulação desses três conceitos que permitiria compreender as orientações dos operários latino-americanos.
4.2. Georges Friedmann e os Problèmes d’Amérique Latine
Ao longo das três viagens que realizou pela América Latina, G. Friedmann tomou várias notas em seus cadernos que, posteriormente, deram origem aos livros Problèmes d’Amérique Latine, publicados pela Gallimard em 1959 e 1961. As primeiras notas ele tomou quando ainda estava numa escala no aeroporto de Dakar (Senegal), indo para o Rio de Janeiro. Aí, anotou as suas expectativas sobre o “novo mundo” que viria a conhecer. Perguntou-se como a América Latina reagia ao novo meio técnico criado pelo progresso das ciências aplicadas, pela proliferação cada vez mais densa das técnicas no universo do trabalho e fora dele e pelas estimulações multiplicadas ao infinito do desenvolvimento das “comunicações de massa” do qual, de noite e de dia, o indivíduo estava cercado (Friedmann, 1959). Ou seja, estava curioso em saber como a população da região, tão diversificada pela sua origem étnica, pela estrutura social, os gêneros e os níveis de existência seria capaz de viver sob a experiência da civilização técnica. Nestes livros, passou a questionar se o progresso técnico poderia ser assimilado de uma forma original e diferente dos modelos europeu, norte-americano ou soviético. Queria acreditar que, mesmo diante das profundas diferenças entre os países, a América Latina poderia dar um precioso aporte à civilização mundial.
Assim, a América Latina aparece, tanto para A. Touraine quanto para G. Friedmann, como uma encruzilhada para a modernização capitalista. Ela colocava enormes desafios para os cientistas sociais e os modernizadores. A dominação estrangeira, ou seja, a localização da região na divisão internacional do trabalho, impunha limites ao seu desenvolvimento. Os movimentos sociais, em particular a classe operária, mas também as ações das classes dirigentes, tinham que ser compreendidas nesse marco de relações sociais e inseridos num cenário internacional.
5. Conclusion
Este artigo buscou problematizar a criação e o desenvolvimento do campo da sociologia do trabalho por meio dos percursos cruzados entre franceses e brasileiros, envolvidos nesta empreitada, ao longo dos anos de 1950 e 1960. Este processo ocorreu por meio de uma incipiente comunidade acadêmica internacional, que se formou no período pós-guerras com o incentivo de organismos internacionais, fundações filantrópicas, governos e, obviamente, as instituições universitárias. Isso tudo permitiu um intenso intercambio entre pessoas e ideias, acabam por criar uma agenda de pesquisa e reflexão em comum.
Estas agendas comuns tiveram como problemática central as transformações ocorridas no mundo da indústria e do trabalho e suas consequências para o conjunto da sociedade. Compartilhando da perspectiva da teoria da modernização, esses acadêmicos buscaram meios de influenciar as políticas públicas de seus países, em particular aquelas que repercutiam no desenvolvimento econômico. Ainda que muitos autores tenham acabado por expressar uma visão contemplativa sobre o desenvolvimento tecnológico aplicado no mundo do trabalho, em particular com a automação industrial, a crítica se mantinha como elemento chave de suas produções.
Este estilo de pesquisa esteve pautado na investigação empírica, em particular com a aplicação de surveys, análise de dados estatísticos, entrevistas e observação de campo, que buscava revelar não apenas os aspectos socioeconômicos do objeto ou da temática abordada, mas também as subjetividades e as consciências das classes sociais envolvidas. Além disso, sob a perspectiva da totalidade social, buscou-se compreender a sociedade por meio de seus conflitos e de como os seus agentes eram capazes de interferir nos rumos da economia e do Estado.
Após o Golpe Militar de 1964, esse projeto político de sociologia e as articulações institucionais e internacionais no campo da sociologia do trabalho, estabelecidas nos anos precedentes, deixaram de existir, ainda que as relações pessoais e intelectuais entre franceses e brasileiros tenham permanecido em outras esferas. Além disso, a passagem dos anos 1950 para os 1960 representou uma inflexão no campo da sociologia brasileira e da sociologia francesa, pois elas se afastaram do aparato conceitual do estrutural-funcionalismo em direção às perspectivas críticas, como foram os casos, na América Latina, da teoria da dependência e do marxismo. No entanto, ainda assim, a sociologia do trabalho que surgiu nos anos 1950/1960 deixou um legado teórico e um estilo de pesquisa que se perpetuou nas gerações seguintes.
Referencias
Barros, J.R.M., 1974. A experiência Regional de planejamento, in: Lafer, B.M. (Ed.), Planejamento No Brasil. Perspectiva, São Paulo.
Borzeix, A., Rot, G., 2010. Genèse d’une discipline, naissance d’une revue Sociologie du travail. Presses Univ. de Paris Ouest, Nanterre.
Brandão Lopes, J.R., 1966. Crise do Brasil arcaico: estudo das relações industriais na sociedade patrimonialista brasileira. Difel, São Paulo.
Brandão Lopes, J.R., 1960a. Motivações e atitudes do operário e o desenvolvimento econômico: observações sobre a restrição de produção. Boletim do Centro Latino-Americano de Pesquisas em Ciências Sociais III, 15–53.
Brandão Lopes, J.R., 1960b. Ajustamento do trabalho à indústria: mobilidade social e motivação, in: Hutchinson, B. (Ed.), Mobilidade e Trabalho. Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, Rio de Janeiro, pp. 360–440.
Brandão Lopes, J.R., 1957. A fixação do operário de origem rural na indústria. Educação e ciências sociais 2.
Brochier, C., 2016. La naissance de la sociologie au Brésil, Des Amériques. Presses Universitaires de Rennes, Rennes.
Camargo, M.J. de, 2016. Inventário dos bens culturais relativos ao plano de ação do governo Carvalho Pinto (1959-1963). 1 164–203. https://doi.org/10.11606/issn.1980-4466.v0iesp21p164-203
Cardoso, F.H., 1964. Empresário industrial e desenvolvimento econômico no Brasil, Corpo e alma do Brasil. Difusão Europeia do Livro, São Paulo, SP.
Cardoso, F.H., 1960a. A estrutura da indústria de São Paulo. Educação e Ciências Sociais VII, 29–42.
Cardoso, F.H., 1960b. As condições sociais da industrialização de São Paulo. Revista Brasiliense 31–46.
Cardoso, F.H., Faletto, E., 1978. Dépendance et développement en Amérique latine, Politiques. PUF, Paris.
Chapoulie, J.-M., 2005. Un cadre d’analyse pour l’histoire des sciences sociales. Revue d’Histoire des Sciences Humaines 13, 99. https://doi.org/10.3917/rhsh.013.0099
Chapoulie, J.-M., 2001. La tradition sociologique de Chicago : 1892-1961. Éd. du Seuil, Paris.
Cunha, M.W.V. da, 1951. Burocratização das empresas industriais estudo monográfico (Tese de Cátedra). Universidade de São Paulo, São Paulo, Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas.
Di Tella, T.S., Brams, L., Reynaud, J.-D., Touraine, A., 1966. Huachipato et Lota: étude sur la conscience ouvrière dans deux entreprises chiliennes. (Recherche menée par l’Institut de recherches sociologiques de l’Université du Chili). Éditions du Centre national de la recherche scientifique, Paris.
Fernandes, F., 1977. A sociologia no Brasil. Contribuição para o estudo de sua formação e desenvolvimento. Vozes, Petrópolis, RJ.
Fernandes, F., 1975. A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica, Biblioteca de ciências sociais. Zahar, Rio de Janeiro.
Fernandes, F., 1968. Sociedade de classes e subdesenvolvimento. Zahar, Rio de Janeiro.
Friedmann, G., 1960. Société et connaissance sociologique. Annales: Economies, sociétés, civilisations Extrait, 9–17.
Friedmann, G., 1959. Problèmes d’Amérique latine. Gallimard, Paris.
Friedmann, G., 1961. Problèmes d’Amérique latine II : signal d’une troisième voie? Gallimard, Paris.
Guimarães, N.A., Leite, M. de P., 1994. A sociologia do trabalho industrial no Brasil: Desafios e interpretações. BIB. Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais 37, 39–59.
Gurvitch, G., 1946. La Vocation actuelle de la Sociologie. Cahiers Internationaux de Sociologie 1.
Ianni, O., 1965. Estado e capitalismo: estrutura social e industrialização no Brasil, Perspectivas do homem. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro.
Miceli, S., 1990. A desilusão americana: relações acadêmicas entre Brasil e Estados Unidos. Sumaré, São Paulo.
Miceli, S., Massi, F. (Eds.), 1989. História das ciências sociais no Brasil. IDESP : Vértice : FINEP, São Paulo, SP, Brasil.
Naville, P., 1961. L’automation et le travail humain : rapport d’enquête, France, 1957-1959, Travaux du Centre d’études sociologiques. Centre national de la recherche scientifique, Paris.
Pereira, L., 1965. Trabalho e desenvolvimento no Brasil, Corpo e alma do Brasil. Difel, São Paulo.
Rego, J.M., 2007. Entrevista com Enzo Faletto. Tempo Social 19. https://doi.org/10.1590/S0103-20702007000100010
Rodrigues, L.M., 1970. Industrialização e atitudes operárias: estudo de um grupo de trabalhadores. Brasiliense, São Paulo.
Rodrigues, L.M. (Ed.), 1968. Sindicalismo e sociedade. Difel, São Paulo.
Rodrigues, L.M., 1966. Conflito industrial e sindicalismo no Brasil, Corpo e alma do Brasil. Difel, São Paulo.
Romão, W. de M., 2006. Sociologia e política acadêmica nos anos 1960: a experiência do CESIT. Humanitas, São Paulo.
São Paulo (Estado), Governador (1959-1963: Carvalho Pinto), 1959. Plano de ação do governo 1959-1963: administração estadual e desenvolvimento econômico social. Imprensa Oficial do Estado, São Paulo.
Schwarcz, L.M., Starling, H.M.M., 2015. Brasil: uma biografia.
Traducció - Francès Parcours croisés dans la sociologie du travail : échanges entre la France et le Brésil
Cet article analyse la création, le développement et l'échange de personnes et d'idées entre les sociologies du travail française et brésilienne au cours des années 1950 et 1960. À travers une étude socio-historique, il met l'accent sur les relations politiques et universitaires établies au sein d’une communauté universitaire internationale naissante qui bénéficiait du soutien financier d'organisations internationales, de fondations philanthropiques, de gouvernements et d'universités. Quelques personnalités ont joué un rôle important dans ce processus, comme Georges Friedmann, Alain Touraine, Fernando Henrique Cardoso et Florestan Fernandes. Tout comme certaines institutions, comme le Centre d'Études Sociologiques et le Laboratoire de Sociologie Industrielle en France, et le Centre de Sociologie Industrielle et du Travail de l'Université de São Paulo au Brésil. Les grands sujets d’intérêt de cette génération ont été les conséquences des transformations technologiques sur le travail et les actions des individus susceptibles de moderniser la société. Diverses approches méthodologiques ont été utilisées dans cette étude, notamment l'analyse de sources documentaires dans des archives en France et au Brésil, ainsi que des entretiens avec des auteurs et une révision bibliographique de la production de la période analysée. Ce texte permet ainsi d’enrichir les études socio-historiques en sociologie et de mettre en évidence les affinités électives entre les intellectuels impliqués dans cette entreprise.
Histoire des sciences sociales, Sociologie du travail, France, Brésil, Amérique latine
Par le biais d’une étude socio-historique, cet article analyse la genèse, le développement et les échanges des sociologies du travail française et brésilienne tout au long des années 1950 et 1960. Nous y soulignons l'importance des relations politiques et universitaires établies entre les individus et les institutions dans le cadre de la naissance d’une communauté universitaire internationale. Dans cette perspective, nous rendons compte des parcours croisés entre Brésiliens et Français, dans une entreprise commune d'institutionnalisation de la sociologie et d'analyse d'une société en pleine transformation. Ce processus nous montrera qu'il existait une affinité élective en matière d’émulations intellectuelles, d'objets d'étude et de théories proposées (voir l’Encadré 1). Bien que les deux groupes aient été séparés par un océan et par des réalités socio-économiques fort distinctes, leurs œuvres n’exprimaient pas moins une vision du monde avant tout marquée par la modernisation capitaliste.
Ces échanges ont été rendus possibles par de nombreux soutiens politiques et financiers de la part d’organisations internationales – l'ONU, l'Unesco et l'OEA –, d’organisations nationales – des ministères et des agences de recherche – et de fondations philanthropiques – telles que les fondations Rockefeller et Ford. Cette dynamique indique l’existence d’un projet de constitution d'une science sociale s'intéressant au monde de l'industrie et du travail.
Ce que nous désignons comme sociologie du travail, qui s’est développée pendant les années 1950 et 1960, ne se limite pas à un domaine de spécialisation au sein des sciences sociales. Nous proposons ici une analyse plus large, qui englobe les études portant sur des questions liées à l'industrie et au travail. C'est d’ailleurs ainsi que les propres auteurs percevaient ce champ de recherche (Guimarães et Leite, 1994 ; Nahoum, 2017). En outre, à cette époque, les spécialisations au sein des domaines scientifiques ne comportaient pas le même type de division intellectuelle du travail qu'aujourd'hui. Les universitaires avaient l'habitude, notamment en sociologie, de passer d'une branche à une autre de leur discipline, voire même, dans certains cas, de passer d’une sciences sociale à une autre.
Nous avons analysé deux importants groupes d'universitaires qui ont contribué à créer et à développer la sociologie du travail dans leur pays. En France, nous nous sommes concentrés sur Georges Friedmann et ceux qui ont travaillé avec lui, en particulier Alain Touraine. Ils ont participé au processus de rénovation des institutions universitaires françaises, qui a permis une plus grande autonomie et flexibilité pour les chercheurs. A ce titre, ont été fondamentaux : les travaux menés au sein du Centre d'Études Sociologiques (CES), la création de la VIe Section de l'École Pratique des Hautes Études (EPHE), qui abritait le Laboratoire de Sociologie Industrielle (LSI), et enfin les études menées à l'Institut des Sciences Sociales du Travail (ISST).
Au Brésil, nous avons analysé le groupe de sociologues de l'Université de São Paulo (USP) qui ont travaillé autour de Florestan Fernandes, comme par exemple Fernando Henrique Cardoso. Une nouvelle tradition d'études sur le travail et l'industrie s'est développée dans cette institution, en dialogue permanent avec des auteurs français et nord-américains. Le moment phare de cette génération a été la création du Centro de Sociologia Industrial e do Trabalho (Cesit) en 1962.
Durant toute la période, la grande préoccupation de cette génération consistait à savoir comment les impacts des transformations technologiques et organisationnelles dans le monde du travail allaient affecter les travailleurs et la société dans son ensemble. De ce fait, ils ont cherché à comprendre qui étaient les sujets de la transformation de la société et comment ceux-ci agissaient, en particulier au sein de la classe ouvrière. Il s’agissait donc d’une préoccupation de fond quant à la modernisation de la société et quant aux différentes formes de résistance à cette modernisation.
L'article est divisé en quatre parties. La première partie traite des défis de la reconstruction et de l'institutionnalisation de la sociologie en France et au Brésil au début de la seconde moitié du vingtième siècle, en insistant sur les contextes sociaux et politiques et sur les institutions impliquées dans cette entreprise. Dans la deuxième partie, nous soulignons l'importance des échanges entre l'USP et la sociologie française, en montrant la façon dont les thèmes de l'industrie et du travail ont gagné en pertinence tout au long des années 1950, reflétant le rôle de plus en plus important de la ville de São Paulo dans l'industrialisation du Brésil. Dans la troisième partie du texte, nous abordons la consolidation de la sociologie du travail dans les deux pays analysés, en soulignant l'importance qu’ont eu les laboratoires et centres de recherche pour les échanges et les types de recherche développés à l'époque. Enfin, la dernière partie cherche à montrer l’impact de l'Amérique latine et ses auteurs sur les réflexions d'A. Touraine et de G. Friedmann, notamment pendant les décennies 1950 et 1960.
1. Les défis de la sociologie après la Seconde Guerre mondiale
Pendant près de trois décennies après la fin de la Seconde Guerre mondiale, le monde universitaire a vécu une phase très importante d'expansion et de consolidation de son réseau d’échanges de personnes et de recherches au niveau mondial. Y ont contribué de nombreuses organisations nationales et internationales (telles que l'ONU, l'Unesco, l'OEA et l'OCDE), des fondations philanthropiques américaines (notamment les fondations Ford et Rockefeller), de même que des aides financières spécifiques à certaines régions (comme ce fut le cas du Plan Marshall), encourageant et finançant l'enseignement et la recherche en sciences sociales dans des pays centraux comme périphériques (Auteurice, 2023). Ces actions s'inscrivaient dans la dynamique de consolidation de la société capitaliste en Occident, rendue hégémonique par le taylorisme, le fordisme, la production et la consommation de masse, la planification et l'interventionnisme d’État, produisant ainsi de nouvelles demandes de connaissances technico-scientifiques de la part des travailleurs et des agents promoteurs du changement.
En France, la renaissance de la sociologie dans l'après-guerre, en particulier de la sociologie du travail, est le résultat de la rencontre entre les politiques de modernisation et les efforts intellectuels mobilisés à cette fin (Tanguy, 2011). Cela a eu pour conséquence de modifier le rôle des universités et des intellectuels (ou experts) dans la société. D'une part, celle-ci a commencé à exiger une force de travail plus qualifiée, en particulier parmi les personnes occupant des postes de direction, tels que les cadres [Ndt. en français dans le texte] ou les managers [Ndt. en anglais dans le texte]. D'autre part, la connaissance scientifique est devenue de plus en plus instrumentale, dans un contexte de recherche de solutions rapides aux problèmes sociaux et techniques. Il en est résulté un nouveau profil universitaire, éloigné à la fois du professeur conservateur isolé de la société et de l'intellectuel engagé. Ainsi, encouragé par les politiques modernisatrices de la période de « reconstruction », est apparu un professionnel qui entendait contribuer à la modernisation capitaliste, tout en adoptant une position critique à l'égard de celle-ci.
La confluence de ce nouveau projet politico-universitaire avec la tradition durkheimienne en France et la tradition structuro-fonctionnaliste aux Etats-Unis, a favorisé la prédominance de la méthode de recherche empirique et d'un modèle qui s'apparentait davantage aux sciences naturelles qu'aux disciplines dont l’objet d’étude est culturel. Cette perspective avait déjà été annoncée par Georges Gurvitch, peu après la Libération de la France, dans un article publié dans le premier numéro de la revue Cahiers internationaux de sociologie :
« L’énorme travail descriptif fourni par la sociologie américaine a montré ici la voie, bien qu’il ait besoin pour porter tous ses fruits, et même pour devenir utilisable, d’être assis sur des schèmes conceptuels, plus clarifiés, plus raffinés et plus flexibles, tels qu’ils font la force de la pensée sociologique française. » (Gurvitch, 1946, p. 7–8)
Au Brésil, si la sociologie s'est institutionnalisée dès le milieu des années 1930 avec la création de l'École Libre de Sociologie et Politique et de l'USP (Brochier, 2016), ce n’est qu’après la Seconde Guerre mondiale et, surtout, la fin de l'Estado Novo de Getúlio Vargas, que la discipline a connu son premier grand élan. Elle s'est implantée dans un ensemble d’universités, avec la création de cursus de licences, l'émergence d'instituts et de centres de recherche – comme l'Institut Supérieur d’Études Brésiliennes (Iseb), le Centre Brésilien de Recherche en Éducation (CBPE) et le Centre Latino-Américain de Recherche en Sciences Sociales (Clapcs) –, et, surtout, avec la mise en application d’une nouvelle politique d'État inspirée du keynésianisme, qui considérait la connaissance scientifique, en particulier les sciences sociales, comme un élément nécessaire à la planification sociale et économique (Auteurice, 2023).
Ce nouveau projet était enraciné dans la réalité concrète de l'époque. Pendant la période d'après-guerre en France, connue sous le nom de Trente Glorieuses, le pays a vu se transformer de fond en comble ses bases sociales et économiques. De 1951 à 1973, le taux de croissance moyen du produit intérieur brut de la France a été de 5,4 % par an, des niveaux jamais atteints sur une période aussi longue. Dans le même temps, la durée annuelle du travail est passée de 2.100 à 1.850 heures, dans un contexte d'augmentation constante de la valeur relative et réelle du salaire moyen et d'automatisation de la production industrielle (Dubois, 1985).
Dans la seconde moitié des années 1950, dans le but d’extraire le pays de son état de sous-développement, l'industrialisation du Brésil a gagné en force, avec une importante concentration d’activités dans la région sud-est, en particulier dans l'État de São Paulo. Au cours de cette période, le produit intérieur brut du Brésil a dépassé le taux de croissance moyen en Amérique latine (il a augmenté de 6,8 % dans les années 1950 et de 4,5 % entre 1960 et 1965). Cela s’est produit au cours d'une période particulière de transition de la société brésilienne, durant laquelle des facteurs tels que la croissance démographique, l'exode rural et, par conséquent, l'urbanisation, ont été déterminants (Commission économique pour l'Amérique latine et les Caraïbes, 1984). Ces changements ont d’ailleurs fini par consolider un marché de consommateurs pour les biens de consommation durables, alimentant ainsi la croissance de l'industrie manufacturière.
L'USP était l'une des principales institutions de recherche et d'enseignement du Brésil. La sociologie jouissait déjà d'un énorme prestige politique et avait vécu un ensemble d’expériences internationales, notamment les missions et les échanges d'étrangers, principalement français, au cours des années 1930 et 1940 (Miceli, 1990 ; Miceli et Massi, 1989). Ainsi, pendant les années 1950, la première génération de sociologues brésiliens formés sous l'influence de ces étrangers a commencé à mettre en œuvre de nouveaux projets intellectuels. Les disciplines et les groupes de recherche organisés par F. Fernandes ont notamment constitué un espace privilégié, assurant, à travers la réalisation de recherches empiriques, la formation et l'expérimentation des nouvelles générations. C’est d’ailleurs F. Fernandes qui a assumé le poste de professeur de sociologie à l’USP après le départ du Français Roger Bastide en 1954.
Selon F. Fernandes, dans un texte publié en 1958 , l'éclatement de l'ancien ordre social brésilien – rural, esclavagiste, seigneurial, traditionnel, etc. – a permis l'émergence et le développement de la société moderne – c'est-à-dire urbaine et industrielle – et par conséquent la prolifération, pour la première fois, de la pensée et de l'action rationnelles. La ville de São Paulo, parce qu'elle représentait le centre dynamique de l'industrialisation du Brésil, aurait été la première à développer cette nouvelle disposition. Cependant, la présence de cette pensée rationnelle n'aurait pas suffi à supprimer l'irrationalisme de la vie quotidienne des individus (Fernandes, 1977).
Toujours selon le sociologue brésilien, les nouvelles institutions, développées dans le contexte des politiques modernisatrices de développement national des années 1950 et 1960, seraient le lieu privilégié d’application des nouvelles techniques rationnelles d'intervention répondant aux problèmes urbains. Celles-ci bénéficieraient ainsi du soutien des planificateurs et des connaissances produites dans les universités publiques.
Dans ce contexte d’avancées de la « modernisation », c'est-à-dire d'industrialisation et d'urbanisation des sociétés européennes et latino-américaines, la sociologie du travail, selon les termes d'A. Touraine, s'est organiquement alignée sur une perspective sociale-démocrate . Par ailleurs, dans le programme fondateur de la revue Sociologie du travail, publié en 1959 et signé par G. Friedmann, on peut lire la défense d'une discipline qui ne se limite pas aux questions relatives au monde du travail, mais qui cherche à produire des analyses et des explications globales (Friedmann, 1959b).
Ainsi, en France, le développement de la sociologie du travail a eu lieu sous tension, dans un tiraillement entre la réalisation d'un projet politico-universitaire et la nécessité de répondre de manière critique aux nouvelles demandes provenant à la fois du mouvement syndical et des transformations produites par le monde industriel tayloriste-fordiste (Touraine, 1952). Dans le cas du Brésil, les sociologues étaient quant à eux confrontés aux impacts de l'industrialisation et de l'urbanisation, à la « révolution démocratique » et au dépassement des éléments dits archaïques de la société.
1.1. Un début de communauté universitaire internationale
Les incitations financières et politiques des organisations nationales et internationales et des fondations philanthropiques ont permis la consolidation de nouvelles institutions modernes de recherche et d'enseignement. Cela a été le cas, en France, avec le CES et l'ISST, deux institutions fondamentales pour le développement de la sociologie du travail tout au long des années 1950 et 1960 (Tanguy, 2011). Au Brésil, le CBPE, fréquenté par un certain nombre d’étrangers, a joué un rôle clé dans l'encouragement des premières grandes recherches empiriques sur l'industrialisation et la rupture de « l'ancien ordre sociétal » (Auteurice, 2023). Dans le cas de l'USP, l’idée était de consolider un laboratoire de recherche semblable à ceux des pays centraux, avec la création du Cesit en février 1962 , une expérience innovante qui a bénéficié de financements publics et privés.
Enfin, les incitations à la création d'associations professionnelles et scientifiques, telles que l’Association Internationale de Sociologie (ISA) et la Sociedade Brasileira de Sociologia (SBC), créées respectivement en 1949 e 1951 , ont également joué un rôle important dans la consolidation de cette communauté universitaire internationale. La circulation des idées et des intellectuels a ainsi bénéficié du réseau international mis en place par ces institutions et ces associations, outre les échanges et missions techniques ou universitaires, les revues, les congrès et les séminaires universitaires internationaux. À cela s'ajoutent les politiques de bourses et de missions de recherche mises en place par les organisations internationales et par l'État français .
L'impact de cette politique est observable dans la progression du nombre de participants et de pays représentés aux quatre premiers Congrès Mondiaux de l'ISA dans les années 1950, comme le montre le Tableau 1 :
Tableau 1 – Participation aux Congrès Mondiaux de sociologie, total des participants et des pays représentés –1949-1959.
Année Congrès Ville (pays) P R
1949 Congrès Constitutif Oslo (Norvège) 24 21
1950 I Congrès Zurich (Suisse) 124 30
1953 II Congrès Liège (Belgique) 281 34
1956 III Congrès Amsterdam (Pays-Bas) 524 54
1959 IV Congrès Milan et Stresa (Italie) 980 50
Source : Tableau élaboré par l’auteur à partir des Actes des Congrès Mondiaux de Sociologie, ISA, 1959, 1950, 1953, 1956 e 1959. Collection de la BnF, France.
Notes :
P = Total des participants.
R = Total des pays représentés.
Les thèmes qui ont guidé les Congrès Mondiaux de l'ISA reflétaient les débats et les recherches menés dans les principaux centres de production des sciences sociales, principalement aux Etats-Unis et en Europe occidentale. Une réflexion, présente dans chacun des congrès, a interrogé de façon récurrente la capacité de la sociologie à intervenir dans le processus de transformation sociale à l’œuvre. Bien entendu, cette question était inextricablement liée au nouveau rôle social des scientifiques et à leurs positions vis-à-vis des politiques étatiques de planification. Le discours prononcé par G. Friedmann, alors président de l'ISA, lors de l'ouverture du VIe Congrès Mondial de Sociologie (1959), illustre la conception de la science que cette génération cherchait à produire. Comme bien d'autres, il était convaincu que la sociologie pouvait aider les États et les organisations de la société civile à prévenir certains problèmes sociaux et à mieux s'adapter au développement technique de la société :
« La sociologie, étroitement liée aux autres sciences sociales, s’affirme de plus en plus comme une nécessaire prise de conscience de la société industrielle par elle-même. [...] On constate que l’ambition de la connaissance scientifique se mêle à l’exigence (ou à la nostalgie) de l’action. L’action du sociologue peut être conçue par lui essentiellement comme la transformation militante du milieu. Mais il peut aussi considérer que sa mission est avant tout d’aider l’homme dans son adaptation à ce nouvel environnement. [...] Les sociologues occidentaux contribuent à la transformation, et en tout cas à la réforme, du milieu social par des recherches [...] Le rôle du sociologue est différent selon la collectivité qui fait appel à lui : une grande administration publique (c’est-à-dire l’État), une entreprise industrielle, commerciale, financière, une corporation économique, un syndicat, une association professionnelle [...]. » (Friedmann, 1960, pp. 11, 15,16)
Dans le cas de l'Amérique latine, et en particulier du Brésil, un moment important de ce long processus d'« universitarisation » des sciences sociales a été la Conférence sur l'Enseignement des Sciences Sociales en Amérique latine, organisée par l'Unesco dans la ville de Rio de Janeiro en 1956. À cette occasion, outre l'approbation de la création de la Faculté Latino-américaine de Sciences Sociales (Flacso), basée à Santiago du Chili, et de la Clapcs, à Rio de Janeiro, a été soulignée la nécessité de produire une recherche et un enseignement qui s'adressent au monde de l'industrie et du travail : « Les universités sud-américaines devraient promouvoir activement les disciplines désignées sous le nom générique de Relations industrielles ou Relations du travail » .
Au cours des années 1950, la participation et l'influence des Latino-américains aux congrès de l'ISA étaient bien moins importantes que celles des Européens et des Nord-américains. Toutefois, cette association n’en en pas moins été un espace politico-universitaire fondamental, qui a permis de créer et d'approfondir les relations entre les États-Unis et l'Europe et entre le Nord et le Sud du monde occidental. Dans le cas spécifique des Latino-américains, alors que leur participation aux congrès internationaux était presque négligeable - et ce essentiellement en raison de la charge financière des voyages et déplacements - le contraire était vrai au sein de la direction de l'ISA. La présence permanente de Latino-américains dans tous les conseils élus durant les années 1950 prouve l'importance politique et universitaire de cette région dans le développement du champ des sciences sociales. Deux Brésiliens, en particulier, ont joué un rôle de premier plan dans la promotion de cette relation au sein des associations internationales et régionales : Fernando de Azevedo et Luiz de Aguiar Costa Pinto .
On peut donc supposer que le travail des Brésiliens dans les congrès internationaux et au sein des équipes de direction de l'ISA, de l'Unesco et d'autres organisations internationales, leur ont permis d’étoffer les liens tissés avec leurs pairs d'autres pays. Cette thèse est confirmée par l'abondante correspondance entre Brésiliens et intellectuels d’autres nationalités présente dans les archives étudiées. C'est par le biais de ces relations qu'un réseau de contacts s'est formé autour d'un programme de recherche sur le monde du travail et de l'industrie.
2. Les premiers échanges entre la France et le Brésil en sociologie du travail
La sociologie du travail qui s’est développée au Brésil tout au long des années 1950 est née fortement liée à des auteurs, des courants et des institutions de pays tiers. Les études sur l'industrie et le travail ont été probablement celles qui ont le plus bénéficié des réseaux de contacts formés au sein de cette communauté universitaire internationale. Deux institutions ont joué un rôle fondamental tout au long de cette période : le CBPE et le Cesit. Mais c'est grâce à la rencontre entre le groupe de G. Friedmann et celui de F. Fernandes que la sociologie du travail au Brésil a connu un boom universitaire, dans le passage des décennies 1950 à 1960, en créant un type de recherche qui a influencé plusieurs générations.
Les relations de G. Friedmann avec les sociologues de l'USP ont commencé au sein de forums internationaux , mais c'est par l'intermédiaire de F. de Azevedo, professeur de sociologie de l'USP, et du Capes , récemment créée et dirigée par Anísio Teixeira, que la visite du Français au Brésil a pu être envisagée et avoir lieu. Les documents retrouvés dans les archives prouvent qu'il existait depuis 1954 un accord pour que des sociologues français, notamment G. Friedmann, puissent contribuer au développement de la sociologie industrielle au Brésil et à la collaboration scientifique entre le CES et l'USP. Dès le début, ce dernier a manifesté un grand intérêt pour la connaissance du pays sud-américain, comme en témoigne une lettre qu'il a adressée à F. de Azevedo en 1954 : « Je suis très touché de cette invitation et serais heureux, en principe, de faire un séjour au Brésil. J’ai dit à Monsieur Teixeira que, dès que j’aurai rassemblé les informations nécessaires (étant donné les engagements que j’ai déjà pris pour 1955 et, par ailleurs mes obligations professionnelles), je lui donnerai ma réponse » . Cependant, ses projets ont sans cesse été repoussés en raison d'une surcharge de travail de sa part. Sa première visite n'a pu avoir lieu qu'à la fin de 1957 , lors d’une escale de quatre jours à Rio de Janeiro pendant laquelle il a, pour la première fois, rencontrer A. Teixeira .
Ses deux visites à l'USP ont eu lieu en 1958 et 1960. Avant ce deuxième voyage, G. Friedmann a fait un court séjour à Rio de Janeiro afin de nouveau y rencontrer A. Teixeira . F. H. Cardoso nous a donné le récit suivant du premier voyage :
« [...] je crois que c'est Fernando de Azevedo qui a invité Friedmann. C'était un professeur français du Conservatoire national des arts et métiers. Il a été l'initiateur de ce qu'on a appelé la sociologie du travail, dans les années 50, au début des années 50. Et Friedmann est venu jusqu’ici [...] J'avais une voiture. Ma tante m'avait donné une voiture. J'ai donc beaucoup voyagé avec lui pour lui montrer São Paulo et aussi pour lui montrer comment s’y passaient les élections. [...] Il était difficile en ce temps-là pour un Européen de comprendre la situation brésilienne, alors j'ai voyagé avec Friedmann [...] Et le fait est qu'ils ont décidé de recommander Alain Touraine pour effectuer un séjour au Brésil. À cette époque-là, Touraine avait déjà fait ses recherches au Chili, à Huachipato et à Lota. Et, par hasard, il y avait travaillé avec quelqu'un qui, plus tard, a écrit un livre avec moi, Enzo Faletto. Alain est alors venu, et comme je parlais français depuis mon enfance, je suis facilement entré en contact avec lui et les autres [...] . »
En 1956, avant sa première visite au Brésil, G. Friedmann a reçu une invitation du recteur de l'Université du Chili à participer à la construction d'un axe de recherche en sociologie industrielle au sein de l'Institut de Sociologie nouvellement créé dans cette université. En raison d'une surcharge d'activités en France et à l'ISA, le sociologue français a délégué cette tâche aux jeunes chercheurs qui travaillaient avec lui au CES, sous la direction d'A. Touraine. Entre 1956 et 1958, ce dernier avait organisé avec Jean-Daniel Reynaud une étude comparative sur la conscience de classe dans les villes de Lota et Huachipato (Di Tella et al., 1966). Il est intéressant de noter ici, afin d’illustrer à quel point ces initiatives ont créé un réseau de relations politico-universitaires tout au long des années 1950 et 1960, que parmi les étudiants chiliens qui ont participé à cette recherche se trouvait Enzo Faletto , qui deviendra des années plus tard un partenaire intellectuel de F. H. Cardoso lors de l’exil de ce dernier au Chili. Voici la façon dont M. Faletto se souvient du travail qu'il a effectué avec A. Touraine :
« La première étude portait sur les groupes de superviseurs, appelés au Chili mayordomos de mira, ou contremaîtres. L'idée était d'accompagner ces contremaîtres dans leurs activités et de prendre des notes, mais au fond il s'agissait essentiellement d'apprendre à connaître le monde des mines, ce à quoi j'ai participé pendant près de trois semaines (...) puis (...) nous avons réalisé des entretiens avec les ouvriers au sujet de leurs activités. Touraine a participé à toutes ces étapes du projet. Il a organisé la recherche et a lancé le travail de terrain, qui a finalement abouti à l’élaboration de questionnaires. Après le séjour de Touraine, suivant ce qui avait été établi dans notre accord, c’est Reynaud qui a rejoint notre équipe. Et c’est avec lui que nous avons commencé l'analyse et, surtout, la première phase de systématisation et d'organisation des données. » (Rego, 2007, p. 192)
A. Touraine a visité pour la première fois la ville de São Paulo en 1960, sur la recommandation de G. Friedmann. Après les premières visites de sociologues français à l'USP, des fenêtres d'échanges et de stages en France se sont ouvertes pour les Brésiliens, notamment au sein du LSI. Ça a été par exemple le cas de F. H. Cardoso, qui a bénéficié de bourses du Capes et de l'EPHE entre octobre 1962 et mars 1963. L'objectif de ces échanges était d'améliorer les relations avec les institutions françaises d'enseignement et de recherche. F. H. Cardoso lui-même a indiqué, dans des lettres à F. Fernandes, que les Européens attendaient beaucoup des recherches à São Paulo .
Ainsi, dans un contexte de construction d'une communauté universitaire internationale, les questions relatives au monde du travail ont gagné en importance dès lors que l'industrialisation du centre et de la périphérie est devenue fondamentale pour les politiques dites modernisatrices.
2.1. Le monde du travail gagne en importance à l'USP
À l'USP, le monde de l'industrie et du travail a progressivement gagné en importance en tant qu'objet de recherche et thème d'événements ou de disciplines universitaires, avec un pic d'activités survenant précisément pendant la période d'articulation et de création du Cesit. Nous pouvons ici mentionner la recherche pionnière menée par Azis Simão – et présentée au Ier Congrès Brésilien de Sociologie en 1954 – sur le vote ouvrier à São Paulo (Simão, 1955). En 1955, par exemple, dans le cours de Dynamique Sociale enseigné par F. de Azevedo aux étudiants de troisième année en sciences sociales, un article de G. Friedmann a, pour la première fois, figuré dans la bibliographie obligatoire . L'année suivante, dans le cours de Sociologie Appliquée, F. H. Cardoso a donné des séminaires sur les problèmes sociaux propres à la société de classes, avec une vaste bibliographie sur la sociologie industrielle nord-américaine . À la même époque, A. Simão, Juarez Brandão Lopes et F. H. Cardoso ont donné plusieurs séminaires et conférences à des syndicats de patrons et d’ouvriers, ainsi qu'à de grandes entreprises. En 1960 et 1961, des cours de sociologie industrielle ont été organisés à l'USP, dont le tout premier est suivi par A. Touraine. On peut ainsi constater l’insertion progressive de thèmes concernant l'industrie et le travail, ainsi que des références à la sociologie industrielle et, plus tard, à la sociologie du travail, dans les cours, séminaires et sujets de recherche des professeurs, assistants et étudiants de l'USP.
Les visites de G. Friedmann et A. Touraine au Brésil en 1958 et 1960, et la possibilité de construire un centre de recherche pourvu d’un réseau international, ont constitué un moment clé dans l'inflexion des études sur l'industrie et le travail à l'USP. Dans ce contexte, une union de différents groupes de recherche a pu se produire, comme cela a été le cas lors du séminaire organisé pendant le premier semestre 1961, coordonné par A. Simão, et dont le programme était le suivant :
28 avril - L'analyse sociologique des problèmes économiques, Florestan Fernandes.
04 mai - Les tendances actuelles de la sociologie industrielle, Juarez Brandão Lopes.
10 mai - Aspects de l'idéologie de l'entrepreneur au Brésil, Octavio Ianni.
16 mai - La formation du prolétariat de São Paulo, Fernando Henrique Cardoso.
22 mai - Le syndicat et l'industrialisation, Azis Simão.
3. La consolidation d'un champ sociologique en France et au Brésil
Le projet de « modernisation » de la société des années 1950/1960 a nourri l'engagement de toute une génération d'intellectuels pendant la période ici analysée. Moderniser était perçu comme synonyme de développement économique et, dans certaines régions, de démocratisation de la société au sens libéral du terme. Dans la France de l'après-guerre, l’objectif principal de ce projet était d'augmenter la productivité du travail. Au Brésil, avec son statut de pays périphérique et dépendant, l'objectif premier consistait à se libérer des entraves héritées d'un passé colonial, « archaïque » et traditionnel. L'un des points communs entre les projets modernisateurs des groupes de chercheurs français et brésiliens résidait en leur optimisme partagé à l'égard du progrès technique et scientifique.
En ce sens, la sociologie industrielle nord-américaine et, plus tard, la sociologie du travail française ont été lues, dans les cours de sciences sociales de l'USP au milieu des années 1950, comme des réflexions abstraites à propos d'une société qui était appelée à se concrétiser au Brésil. Cependant, lorsque l'industrialisation est devenue le facteur le plus dynamique de l'économie brésilienne, le monde du travail a été intégré à la sociologie de l'USP en tant qu'objet central des réflexions politico-universitaires (Brandão Lopes, 1960b ; Cunha, 1951 ; Simão, 1955). Par ailleurs, du fait de ce processus, la classe ouvrière brésilienne est devenue un agent politique important. Et c’est à partir de cette situation que la sociologie du travail brésilienne a pu gagner en concrétude, permettant un dialogue théorique entre Brésiliens et Français basé sur des recherches empiriques.
Ainsi, lorsque les sociologues du travail français sont arrivés au Brésil à la fin des années 1950, ils ont trouvé un type de recherche semblable à celui qu’ils pratiquaient en France. La création du Cesit en 1962, qui a mis en pratique le projet d’une sociologie appliquée, esquissé par F. Fernandes, n'a été possible que du fait d’une situation politique nationale et étatique qui favorisait les politiques de planification (Romão, 2006). Au niveau des États fédéraux, le gouvernement avait mis en œuvre une politique appelée Plan d'action de l'État de São Paulo et encourageait une relation étroite entre la bureaucratie de l'État et l'USP (Camargo, 2016). Au niveau national, la crise déclenchée par la démission de Jânio Quadros avait rendu possible le fait que la Confédération Nationale de l'Industrie (CNI) soit dirigée par un ami de longue date de F. H. Cardoso, ce qui a précipité une donation importante permettant le démarrage des travaux du Cesit .
En France, entre 1940 et 1960, trois problèmes revenaient de façon récurrente dans une grande partie des recherches en sociologie : (1) les conséquences des transformations techniques sur le travail et sur la société dans son ensemble ; (2) les attitudes des ouvriers ; et (3) l'organisation et la rémunération du travail . Parmi les figures les plus importantes de cette génération, on peut citer, outre G. Friedmann et A. Touraine, Jean-Daniel Reynaud, Michel Crozier et Pierre Naville. Les dialogues entre ces sociologues français et les sociologues brésiliens ont eu un impact certain sur les réflexions et les programmes de recherche menés au Brésil. Parallèlement, les Français se sont montrés curieux des études menées en Amérique latine.
Les deux Dossiers spéciaux publiés dans la revue Sociologie du Travail en 1961 et 1967 témoignent de l'écho auprès des Français des réflexions tenues en Amérique latine. Le premier portait sur « Ouvriers et syndicats en Amérique latine » et le second sur « Classes sociales et pouvoir en Amérique latine » . Parallèlement à la revue, les deux volumes du Traité de Sociologie du Travail ont paru en 1961 et 1962, organisés par G. Friedmann et P. Naville, avec la collaboration de Jean-René Tréanton. Bien que cette parution ait eu lieu après celle de la revue, l'articulation du projet avait commencé bien auparavant, en 1954 (Borzeix et Rot, 2010). Dans le deuxième volume, A. Touraine et Bernard Mottez écrivent sur la classe ouvrière et la société globale et, dans l'un de leurs principaux arguments, ils se basent sur la thèse du Brésilien J. Brandão Lopes concernant le désir des ouvriers d'origine agricole de travailler pour eux-mêmes et de retourner à la campagne, fuyant le milieu de l'usine (Brandão Lopes, 1957).
3.1 Centre de Sociologie Industrielle et du Travail du Brésil
Le premier grand projet thématique du Cesit s'intitulait Économie et société au Brésil : analyse sociologique du sous-développement. Il visait à comprendre les effets de l'industrialisation sur la région métropolitaine de São Paulo. Parallèlement, le Cesit a également mené des recherches sur la Structure des entreprises industrielles à São Paulo, fournissant des connaissances objectives et précises sur la situation globale des industries dans la région, les caractéristiques structurelles des différents types d'entreprises industrielles existantes et, enfin, l'organisation, les tendances de croissance et les conditions d'intégration dans le système socio-économique des entreprises considérées comme typiques. Le Cesit a également cherché à étudier la relation entre l'industrialisation de São Paulo et le développement de la nation, en particulier les obstacles à ce dernier en raison des conditions de retard de la société brésilienne .
La sociologie de l'USP, en particulier celle produite au Cesit, a cherché à interpréter et à analyser la réalité brésilienne dans une perspective totalisante . Les travaux de ces auteurs contenaient une tension interne due à la confrontation entre le modèle fonctionnaliste, valorisé tout au long des années 1950, et la méthode dialectique, incorporée par la jeune génération dans ses recherches grâce à ses lectures de Marx et d'auteurs marxistes. Comme l'affirment Guimarães et Leite, cette génération
« a osé prendre le risque de formuler une théorie de la société brésilienne. Dans cet esprit pionnier, les études sur le travail industriel ont joué un rôle décisif [...] Dans ces conditions, la sociologie moderne du travail est née au Brésil fortement redevable à quelques pionniers qui avaient accepté le défi d'expliquer les conditions d'émergence, les attitudes politiques et l'action syndicale des contingents d’ouvriers formés pendant le processus d'industrialisation. » (Guimarães et Leite, 1994, p. 40)
Cependant, leurs travaux n'ont pas permis de dépasser la vision dualiste en vogue dans les sciences sociales, et ce bien que les auteurs aient été ouvertement critiques par rapport à celles-ci. Par le biais de recherches empiriques et d'enquêtes, avec le monde urbain et industriel comme objet central (la face « moderne » du pays), les membres du Cesit ont cherché à démontrer les raisons pour lesquelles le projet modernisateur rencontrait des résistances au Brésil. La cause, grossièrement, a été attribuée à la présence d'éléments d'archaïsme dans les attitudes des ouvriers et des entrepreneurs industriels.
L'une des lignes thématiques de recherche développées par le Cesit portait sur la mentalité de l'entrepreneur industriel. L'objectif était de comprendre cet acteur social, afin de contribuer à la création d'un nouveau type d'entrepreneur, au profil rationnel et planificateur, conscient de l'importance d'articuler ses actions avec la logique du marché concurrentiel et sachant tirer le meilleur parti des nouveaux profils d’ouvriers et des connaissances scientifiques produites à son époque. En fin de compte, on pensait qu'il était possible de surmonter le profil d'une bourgeoisie industrielle marquée par une société traditionnelle, archaïque et paternaliste. La production de connaissances concernant la mentalité des entrepreneurs industriels était donc fondamentale pour guider et discipliner cette couche sociale dans le processus de modernisation de la société. Cependant, les conclusions de F. H. Cardoso (1964, 1960a, 1960b) étaient que les entrepreneurs industriels, influencés par la nature archaïque de notre passé, étaient dépourvus de la rationalité instrumentale fondamentale au développement capitaliste, élément par ailleurs aggravé par la dépendance de l'économie brésilienne. Il appartenait donc à l'État, avec l'aide des techniciens et des connaissances scientifiques, de formuler et d'encourager l'industrialisation à l'aide de méthodes modernes.
A l’opposé d’un point de vue de classe, il y a eu une recherche sur la mobilisation de la main-d'œuvre, dans laquelle le Cesit est parti de l'hypothèse que les formes de stratification sociale produites par la colonisation et l'esclavage au Brésil ont laissé en héritage une dégradation de la main-d'œuvre. Bien que les auteurs aient voulu rompre avec la logique dualiste, le fait est que leurs recherches et leurs conclusions sont restées dans cette même perspective. Par exemple, l'hypothèse de Leôncio Martins Rodrigues était que la
« nature du processus moderne d'industrialisation, en interaction avec certaines caractéristiques de la société brésilienne, a conduit à une position relative de la classe ouvrière au sein de la nation et à des types d'orientations et d'attitudes politiques divergents de ceux observés dans les pays d'ancienne industrialisation. » (Rodrigues, 1968, p. 341)
Très proche des conclusions de J. Brandão Lopes (1966, 1960a, 1960b, 1957), L. M. Rodrigues interprète qu'il n'y a pas eu au Brésil de formation d'une idéologie remettant en question le capital au sein de la classe ouvrière. Le désajustement des travailleurs dans la société industrielle se reflétant ainsi dans un manque de conscience de classe. Avec cette limitation, les syndicats et les mouvements sociaux ouvriers ne pourraient pas remplir leur rôle de sujets historiques. Et en l’absence d’intervention radicale, les entités syndicales se développeraient contrôlées par l’État et subordonnées à lui, permettant ainsi l’émergence du populisme.
Le thème de la conscience ouvrière ou des attitudes ouvrières était au centre des préoccupations de la première phase de la production intellectuelle d'A. Touraine (c'est-à-dire de 1948 à 1968) . Le sociologue a cherché à produire une théorie de l'action sociale, en réfléchissant à ce qu'il appelle l'historicité [NDT. en français dans le texte], c'est-à-dire la capacité de la société à se transformer par elle-même. Mais cette transformation dépendrait de l’action d’un sujet historique, à savoir la classe ouvrière.
Durant cette période, la sociologie française du travail a présenté de nombreuses études sur la résistance ouvrière au processus de transformation technico-administrative du monde du travail, qui incluaient la réalisation d'enquêtes [NDT. en français dans le texte] visant à mesurer la conscience ouvrière (Naville, 1961 ; Touraine, 1966). De cette manière, on pensait qu'en comprenant les questions qui régissaient l'action des travailleurs, il serait possible aux syndicats, aux employeurs et aux agents gouvernementaux de planifier les politiques nécessaires afin d’accélérer le processus de modernisation de la société.
Ainsi, grâce à un réseau de contacts politico-universitaires et à une communauté universitaire internationale, il a été possible de créer des programmes de recherche communs et des réflexions théoriques sur le processus de « modernisation », dans une perspective comparative entre centre et périphérie, en soulignant aussi bien les similitudes que les singularités locales. L’ambition de ces auteurs de rendre compte de la totalité sociale, notamment des deux pôles de la « modernisation » capitaliste dans l’après-Seconde Guerre mondiale, a conduit A. Touraine à articuler un gigantesque projet de recherche sur la conscience de classe, qui impliquait un partenariat entre le LSI, dirigé par lui-même, et les instances latino-américaines, dont le Cesit.
3.2. Un projet du LSI pour l’Amérique latine
Le projet du LSI intitulé Changement social et mouvements sociaux en Amérique latine a été articulé en 1964 avec l'Argentin Gino Germani et mis en pratique l'année suivante. Il s'agissait d'une ambitieuse initiative de coopération entre chercheurs de différents pays, qui visait à réaliser une analyse comparative des choix économiques (types d'investissement, modes de détermination des salaires, inflation, etc.) des acteurs sociaux dans le processus de transformation de la société ou, pour reprendre le vocabulaire d'A. Touraine, de manifestation du système d'action historique.
En France, le projet a bénéficié du soutien et de la coopération de l’Institut des Hautes Études d’Amérique Latine (IHEAL), créé en 1954 et lié à l’EPHE, et du concours financier de la Délégation Générale à la Recherche Scientifique et Technique. Avant le projet, le LSI et l’IHEAL se sont efforcés, sous la direction d’A. Touraine et de Daniel Pécaut, de créer un Centre de Documentation Sociale sur l'Amérique latine, dans le but de collecter des documents sur les problèmes sociaux liés à l'industrialisation dans la région. Du 30 octobre 1964 au 16 janvier 1965, D. Pécaut a visité plusieurs pays d'Amérique du Sud (Argentine, Brésil, Chili, Uruguay, Pérou et Colombie) dans le but de rassembler une documentation de base, principalement des données statistiques, qui viendrait inaugurer ce nouveau centre de documentation. Cette mission a également permis au Français de renforcer ses relations avec les Latino-américains, ce qui a été ultérieurement décisif pour le projet comme pour sa propre carrière universitaire. Le Centre recevait le soutien financier du CNRS et a été mis en œuvre en septembre 1966 . Les documents rassemblés et les données de recherche seraient partagés avec les institutions partenaires du LSI en Amérique latine. Une partie de cette coopération comprenait l'envoi de chercheurs français en mission dans les pays concernés et le déplacement des coordinateurs latino-américains du projet à Paris.
Selon un de ses rapports, le LSI avait pour objectif, en collaboration avec des instituts de recherche latino-américains, de réaliser un « certain nombre d'enquêtes sur la formation des classes ouvrières, sur les effets des migrations internes, sur les mouvements sociaux et nationaux et sur la formation des dirigeants de la classe économique » . Dans une lettre écrite par A. Touraine à F. Fernandes, la recherche est ainsi présentée :
« L'objectif de la recherche est de considérer les attitudes des nouvelles catégories et le développement de leurs pays. En fonction de quels objectifs et de quels moyens les travailleurs jouent-ils un rôle dans les processus de décision qui conduisent au développement économique et social ? Comment le thème et les modalités du nationalisme et de la défense de classe s’entremêlent-ils ? Quelle conception se fait-il jour du syndicalisme, de la politique, du travail industriel, etc. ? Comme vous pouvez le constater, il s’agit moins d’une étude sur l’intégration ou l’adaptation sociale que d’une analyse de la participation et de la revendication . »
Les enquêtes seraient menées en Argentine, au Brésil, au Chili, au Pérou, en Colombie et au Mexique. Cela nécessitait non seulement une articulation politico- universitaire importante, ce qui était possible pour les Français du fait des apports financiers importants en provenance des organisations nationales et internationales consacrés à des thématiques liées au développement des pays du « tiers-monde », mais cela dépendait aussi surtout des conditions politiques propres à chaque nation. Les coups d’État militaires survenus à partir de 1960 ont été l’une des principales limites à l’articulation de cette recherche et d’autres recherches. Malgré cela, les centres d'études sociologiques les plus importants d'Amérique du Sud ont été impliqués dans la préparation de ce projet, même s’ils n'ont finalement pas tous participé à sa mise en œuvre.
Parmi ceux-là figurent le Cesit de l'USP, le Centre de Sociologie Comparée de l'Institut Torcuato Di Tella et l'Institut de Sociologie de l'Université de Buenos Aires, tous deux dirigés par G. Germani, le Département de Sociologie de l'Université de Buenos Aires, dirigé par Garcia Rena, la Faculté de Sociologie de Bogotá, avec le concours et l’aide de Fals Borda et Rotinof. Le Clapcs, à Rio de Janeiro, alors dirigé par Manuel Diegues, a manifesté son intérêt à participer à cette recherche, mais rien ne confirme la concrétisation d’un quelconque partenariat. Les documents analysés nous portent à croire que la fondation Ford a également contribué financièrement au projet.
Les problématisations formulées par le groupe de sociologues autour d'A. Touraine ont coïncidé avec les questions abordées par une partie de la sociologie latino-américaine, à savoir les difficultés du développement économique à la périphérie du capitalisme . Les acteurs étudiés – qu’ils soient ouvriers ou entrepreneurs industriels – étaient appréhendés à la fois comme des agents de développement et comme des défenseurs d’intérêts privés. Mais l'élément le plus concret de cette étude serait, affirme le document, l'enquête sur la formation de la conscience ouvrière. Cette enquête permettrait de comprendre l’ensemble des formes selon lesquelles une catégorie professionnelle devient un acteur politique et social, intervenant activement ou passivement dans les décisions qui prennent part au développement d’une nation.
Les premières réunions des équipes d'enquête ont eu lieu tout au long du premier semestre 1965, à Paris et à Buenos Aires, avec la participation de G. Germani. Le LSI a pris en charge l'essentiel des coûts du projet, en payant les missions, les coordinateurs et les chercheurs . L'entreprise serait lancée avec la réalisation de questionnaires auprès des ouvriers – environ 800 à 1000 questionnaires par pays – et la recherche de documents relatifs aux activités syndicales, aux mouvements sociaux et au système politique. Les recherches ont été réalisées entre novembre 1965 et août 1966, sans la participation de l'équipe brésilienne.
4. L'Amérique latine à la croisée des chemins de la modernisation
Le processus profond de changements sociaux, économiques et politiques survenus au Brésil après la fin de la Seconde Guerre mondiale, principalement avec l'avancée du soi-disant national-développementalisme, c'est-à-dire les actions de l'État visant à stimuler l'industrialisation sans modifier les principales corrélations de forces politiques entre classes sociales, a suscité une réaction de la part des secteurs les plus conservateurs et réactionnaires de la société qui a abouti au coup d’État militaire du 1er avril 1964 (Schwarcz et Starling, 2015).
Cette tension et les difficultés à la résoudre par la voie démocratique ont fait l'objet de recherches menées par la sociologie du travail à l'USP, notamment par les membres du Cesit. F. H. Cardoso, par exemple, a cherché à comprendre les raisons pour lesquelles les entrepreneurs industriels n’adoptaient pas une position progressiste (et rationnelle) en matière de développement économique. Leurs attitudes les ont amenés à s’aligner sur les secteurs les plus réactionnaires de la société brésilienne. Outre l’idéologie propagée par la guerre froide, ils craignaient que la force du prolétariat industriel n’impose ses revendications démocratiques et mette fin aux privilèges propres à une société au passé esclavagiste. Sans surprise, F. H. Cardoso a ainsi conclu :
« Les décisions fondamentales ne dépendront pas uniquement de la bourgeoisie industrielle, qui, semble-t-il, a opté pour « l’ordre », renonçant une fois pour toutes à tenter d’obtenir une hégémonie totale sur la société et se satisfaisant de son statut de partenaire mineur du capitalisme occidental et de garde rapprochée d’une agriculture qui se capitalise très lentement. Il reste à voir quelle sera la réaction des masses urbaines et des groupes populaires et de quelle capacité organisationnelle et décisionnelle ils seront capables pour faire avancer la modernisation politique et le processus de développement économique du pays. En fin de compte, la question sera alors : sous-capitalisme ou socialisme ? » (Cardoso, 1964, p. 198)
La conclusion de F. H. Cardoso annonçait ses préoccupations et son passage d'une sociologie wébérienne et structuro-fonctionnaliste, avec de fortes traces de théorie de la modernisation, à ce qui est connu sous le nom de théorie de la dépendance. Cette nouvelle phase s’est consolidée dans ses études réalisées en exil, notamment au Chili, et dans le partenariat qu'il a noué avec Enzo Falleto (Cardoso et Faletto, 1978).
Le coup d’État militaire de 1964 au Brésil a déclenché une forte persécution contre les sociologues de l’USP, rendant difficile la poursuite des enquêtes programmées par le Cesit. F. H. Cardoso et bien d’autres ont dû prendre le chemin de l’exil, entamant un nouveau cycle dans la production des sciences sociales brésiliennes et dans sa relation avec la sociologie française. Le départ du sociologue brésilien a notamment affaibli la direction du nouveau centre de recherche, qui a été assumée par F. Fernandes. A. Touraine a tenté à de multiples reprises de convaincre les membres du Cesit de participer à la recherche internationale coordonnée par le LSI, essayant de placer le jeune sociologue Luiz Pereira et, plus tard, L. M. Rodrigues, à sa coordination . Cependant, les intérêts universitaires de ces derniers avaient changé. L. M. Rodrigues, par exemple, était plus enthousiaste à l'idée de suivre les traces de F. H. Cardoso et de Francisco Weffort, et d’assumer un rôle à la Cepal, à Santiago du Chili, que de rester au Brésil et d’être confronté aux difficultés universitaires et aux austérités imposées par le nouveau régime dictatorial.
4.1. Alain Touraine et le sujet historique
À partir de ses recherches, de ses voyages et des relations personnelles et universitaires qu’il a tissés en Amérique latine, A. Touraine a progressivement élaboré sa propre explication concernant le processus d'industrialisation et le rôle de ses acteurs sociaux dans la région. Il a influencé et il a lui-même été influencé par les théories des groupes locaux, comme ce fut le cas des sociologues de l'USP, établissant ainsi avec eux un dialogue, bien que ni systématique ni durable. Les recherches menées avant 1965, année de soutenance de son doctorat d’État, ont donné à l’auteur français la matière nécessaire aux réflexions qui le conduiront à la proposition d’une nouvelle théorie sociologique générale, exprimée dans Sociologie de l’action. Par la suite, et jusqu'en 1973, date du coup d'État militaire au Chili et de la publication de Production de la Société, A. Touraine a cherché à appliquer et à améliorer sa théorie avec des analyses de nouveaux cas.
Dans une perspective théorique présentée dans le cadre d’un article, A. Touraine et D. Pécaut (1967) mettent en évidence la singularité des processus d'industrialisation des pays « en voie de développement ». Dans ces derniers, la distinction entre dirigeants et dirigés n’a jamais été aussi nette que dans les processus d’industrialisation en Europe. En Amérique latine, ceux-ci ont souvent été le fait de groupes nationalistes ou révolutionnaires, dont les dirigeants économiques ou politiques étaient souvent confondus avec les dirigeants des mouvements populaires. Par ailleurs, la bourgeoisie était faible et la classe ouvrière était intégrée dans le système politique. Cela aurait pour conséquence le fait que, dans ces pays, les masses auraient une influence singulière sur les processus de transformation, agissant en tant que classe sociale, mais avec un type de conscience bien différent de celui qui a été historiquement exprimé en Europe .
A. Touraine opte pour une sociologie du développement qui comprend la dynamique des nations sous-développées et les effets de domination exercée par les grandes puissances capitalistes, car cette perspective insiste, selon l'auteur, sur l'importance des relations sociales. En ce sens, il se refuse à réduire les conduites sociales à une adaptation aux transformations, et la société à une image déterminée seulement par la domination. Il estime qu'il existe d'autres formes de conduite et de relations sociales qui conduisent à l'autonomie dans les décisions politiques au sein de ces sociétés. Et surtout, qu’il existe des mouvements sociaux qui rendent ces sociétés ouvertes, c’est-à-dire axées sur les conflits autour de l’orientation à donner à leur propre transformation. Il conclut ainsi, généralisant la réflexion et l’articulant avec sa théorie générale, que « la société n'est pas seulement un système de normes ou un système de domination : elle est un système de rapports sociaux, de débats et de conflits, d'initiatives politiques et de revendications, d'idéologies et d'aliénations. » (Touraine, 1973, p. 42)
Ces affirmations ont une conséquence certaine sur le concept de « sujet historique » développé par A. Touraine, notamment en ce qui concerne la conscience ouvrière. Celui-ci exercerait ainsi une certaine interférence, directe ou indirecte, dans le développement économique. Même lorsque le processus relève de la simple adaptation, il existe là tout de même aussi une conscience de développement. La thèse de l’auteur français est que les ouvriers latino-américains ont contribué à définir les changements intervenus dans leur pays et qu'ils n'y ont pas été soumis. En ce sens, A. Touraine finit par être en désaccord avec les explications selon lesquelles, d’une part les ouvriers d’Amérique latine se seraient passivement adaptés aux transformations, et d’autre part les conquêtes législatives et sociales auraient été un moyen trouvé par les classes dominantes pour maintenir leur contrôle sur les ouvriers.
Pour expliquer la participation des acteurs au processus de transformation, A. Touraine élabore la notion de projet, qui lui permet de fédérer les notions d'attente, de mode de participation et d'exigence normative de l'individu. Cette proposition avait déjà été esquissée dans son étude sur les ouvriers agricoles (Touraine et Ragazzi, 1961). Les individus font des choix à un niveau personnel, comme c'est par exemple le cas pour la mobilité géographique, mais le passage d'une position d'acteur social particulier à une position d'acteur au niveau mondial représente un saut dans le champ historique. Dans ces cas-là, souligne le Français, le rôle du sociologue serait de comprendre le « projet d’avenir » et les manières dont les travailleurs s’adaptent à la migration de la campagne vers la ville.
Ainsi, l’une des conclusions majeures que tire A. Touraine de ses réflexions sur l’Amérique latine est que pour comprendre l’industrialisation de cette région, la notion de classe sociale est insuffisante. Selon l'auteur, il faudrait intégrer dans les analyses les concepts de nationalisme et de développement. Ce serait donc la combinaison et l’articulation de ces trois concepts qui permettraient de comprendre les orientations des ouvriers latino-américains.
4.2. Georges Friedmann et les Problèmes d'Amérique Latine
Au cours de ses trois voyages en Amérique latine, G. Friedmann a pris des notes dans ses carnets qui ont ensuite donné naissance aux livres Problèmes d'Amérique Latine, publiés chez Gallimard en 1959 et 1961. Ses toutes premières notes, il les a prises alors qu'il était en escale à l'aéroport de Dakar (Sénégal), en route pour Rio de Janeiro. Il y a écrit ses attentes quant au « nouveau monde » qu’il allait bientôt découvrir. La question était de savoir comment l'Amérique latine réagissait au nouvel environnement technique créé par le progrès des sciences appliquées, par la prolifération de plus en plus dense des techniques dans le monde du travail et au-delà, et par les stimulations multipliées à l’infini par le développement des « communications de masse » qui, nuit et jour, cernaient les individus (Friedmann, 1959). En d’autres termes, il était curieux de savoir comment la population de la région, si diversifiée en termes d’origine ethnique, de structure sociale, de sexe et de niveaux d’existence, serait capable de vivre l’expérience de la civilisation technique. Dans ces ouvrages, il s’est interrogé sur le fait de savoir si le progrès technique pourrait être assimilé de manière singulière et différente des modèles européen, nord-américain ou soviétique. Il voulait croire, en dépit de l’existence de différences profondes entre les pays, que l’Amérique latine pouvait apporter une contribution précieuse à la civilisation mondiale.
Ainsi, l’Amérique latine apparaît, tant pour A. Touraine que pour G. Friedmann, comme un carrefour de la modernisation capitaliste. Son existence a posé d’énormes défis aux professionnels des sciences sociales comme aux modernisateurs. La domination étrangère, c'est-à-dire la situation de la région par rapport à la division internationale du travail, imposait des limites à son développement. Les mouvements sociaux, en particulier la classe ouvrière, mais aussi les actions des classes dirigeantes, devaient donc être compris dans ce cadre de relations sociales et insérés dans un contexte international.
5. Conclusion
Cet article a cherché à problématiser la création et le développement du champ de la sociologie du travail à travers les parcours croisés des Français et des Brésiliens impliqués dans cette entreprise tout au long des années 1950 et 1960. Ce processus a été mis en œuvre par une communauté universitaire internationale naissante, qui s'est formée dans la période de l'après-guerre, avec l'encouragement des organisations internationales, des fondations philanthropiques, des gouvernements et, bien sûr, des institutions universitaires. Tout cela a permis d’intenses échanges de personnes et d’idées, donnant finalement lieu à l’élaboration d’un programme commun de recherche et de réflexion.
Ce programme commun avait pour thème central les transformations survenues dans le monde de l’industrie et du travail et leurs conséquences sur la société dans son ensemble. Partageant la perspective de la théorie de la modernisation, ces universitaires ont cherché des moyens d’influencer les politiques publiques de leur pays, en particulier celles qui avaient un impact sur le développement économique. Bien que de nombreux auteurs aient fini par exprimer une vision de nature contemplative du développement technologique appliqué au monde du travail, notamment avec l'automatisation industrielle, la critique est demeurée un des éléments clé de leurs productions.
Ce type de recherche reposait sur une approche empirique, notamment avec la réalisation d'enquêtes, d'analyses de données statistiques, d'entretiens et d'observations de terrain, qui cherchaient à révéler non seulement les aspects socio-économiques de l'objet ou du thème abordé, mais aussi les subjectivités et les prises de conscience des classes sociales concernées. Par ailleurs, dans une perspective de totalité sociale, cette recherche visait à comprendre la société à travers ses conflits et la façon dont ses agents étaient capables de prendre part à la direction de l'économie et de l'État.
Après le coup d’État militaire de 1964, ce projet sociologique de nature politique, tout comme les articulations institutionnelles et internationales dans le domaine de la sociologie du travail établies au cours des années précédentes, ont cessé d’exister, bien que les relations personnelles et intellect
Portuguès a Francès: Viva viva Escola Viva General field: Art/Literatura Detailed field: Art, Manualitats & Artesania, Pintura
Text d'origen - Portuguès https://selvagemciclo.org.br/wp-content/uploads/2024/03/CADERNOVVEV_120324.pdf
Traducció - Francès https://selvagemciclo.org.br/wp-content/uploads/2024/04/CADERNO_VVEV_FR.pdf
Portuguès a Francès: O coração expandido das Escolas Vivas General field: Ciències socials Detailed field: Antropologia
Text d'origen - Portuguès https://selvagemciclo.org.br/wp-content/uploads/2024/05/caderno84_Ailton_krenak.pdf
Traducció - Francès https://selvagemciclo.org.br/wp-content/uploads/2024/05/caderno84_Ailton_krenak.pdf
Portuguès a Francès: Invocação à terra. Discurso de Ailton Krenak na Constituinte. Comentado por Pedro Mandagará General field: Ciències socials Detailed field: Antropologia
Text d'origen - Portuguès https://selvagemciclo.org.br/wp-content/uploads/2021/07/CADERNO27_CONSTITUINTE.pdf
Traducció - Francès https://selvagemciclo.org.br/wp-content/uploads/2023/12/CADERNO27_CONSTITUINTE_FR.pdf
More
Less
Experiència
Anys d'experiència: 18. Registrat/ada a ProZ.com des de: Mar 2025. Membre des de: Mar 2025.
Japonès a Francès (Institut National des Langues et Civilisations Orientales)
Afiliacions
N/A
Programes
Adobe Acrobat, Aegisub, CafeTran Espresso, FinalSub, Microsoft Excel, Microsoft Word, Smartcat, Smartling, Subtitle Edit
Biografia
French-Spanish experienced and passionated multilingual and audiovisual professional.
My
journey started in Litterature and Japanese Cinema Studies in Paris and
Tokyo, which then led to work with language as a translator-proofreader-subtitler, and visual arts.
Having studied and worked in
France, Spain and Japan, I am currently living and working as a freelancer in Rio de
Janeiro, Brazil, as a language specialist and audiovisual creator. I'm also collaborating with several ongoing local projects: Selvagem Ciclo de estudos
sobre a vida, Capacete Entretenimentos and Festival Varilux de Cinema
Francês.